domingo, 23 de setembro de 2012


MELHOR IDADE É A PUTA QUE PARIU!  
RUI CASTRO 
           
PRAZERES DA MELHOR IDADE

          (Melhor idade é a puta que pariu - a melhor idade é de 18 aos
40 anos...  )


         
A voz em Congonhas anunciou: "Clientes com necessidades
especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e
portadores do cartão tal terão preferência etc.". Num rápido
exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades
especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do
dito cartão, só me restava a "melhor idade" - algo entre os 60
anos e a morte.
           Para os que ainda não chegaram a ela, "melhor idade" é quando
você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis
que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para
debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa,
arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora
terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de
dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João
Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica.
           Privilégios da "melhor idade" são o ressecamento da pele, a
osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão
lembrando placar de basquete americano, a falência dos
neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda
de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou
seja, nós, da "melhor idade", estamos com tudo, e os demais
podem ir lamber sabão.
           Outra característica da "melhor idade" é a disponibilidade de
seus membros para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e
Frontal que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem
retirar.
          Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon.
Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca,
o rapaz perguntou: "Voltando da farra, Ruy?". Respondi,
eufórico: "Que nada! Estou voltando da farmácia!".

          E esta, de fato, é uma grande vantagem da "melhor idade": você
extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir.
           Primeiro, a aposentadoria é pouca e você tem que continuar a
trabalhar para melhorar as coisas. Depois vem a condução.
          Você fica exposto no ponto do ônibus com o braço levantado
esperando que algum motorista de ônibus te dê uns 60 anos.
           Olha... a analise dele é rápida. Leva uns 20 metros e, quando
pára, tem a discussão se você tem mais de 60 ou não.
          No outro dia entrei no ônibus e fui dizendo:
          - "Sou deficiente".
          O motorista me olhou de cima em baixo e perguntou:
           - "Que deficiência você tem?"
          - "Sou broxa!"
          Ele deu uma gargalhada e eu entrei.
          Logo apareceu alguém para me indicar um remédio. Algumas
mulheres curiosas ficaram me olhando e rindo...
          Eu disse bem baixinho para uma delas:
           - "Uma mentirinha que me economizou R$ 3,00, não fica triste não"
          Bem... fui até a pedra do Arpoador ver o por do sol.
          Subi na pedra e pensei em cumprir a frase. Logicamente velho tem
mais dificuldade.

          Querem saber? Primeiro, tem sempre alguém que quer te ajudar a
subir: "Dá a mão aqui, senhor!!!"
          Hum, dá a mão é o cacete, penso, mas o que sai é um risinho meio
sem graça.
          Sentar na pedra e olhar a paisagem.
          É, mas a pedra é dura e velho já perdeu a bunda e quando senta
sente os ossos em cima da pedra, o que me faz ter que trocar de
posição a toda hora.
           Para ver a paisagem não pode deixar de levar os óculos se não,
nada vê.
          Resolvo ficar de pé para economizar os ossos da bunda e logo
passa um idiota e diz:
          - "O senhor está muito na beira pode ter uma tontura e cair."
           Resmungo entre dentes: ... "só se cair em cima da sua mãe"...
mas, dou um risinho e digo que esta tudo bem.
          Esta titica deste sol esta demorando a descer, então eu é que
vou descer, meus pés já estão doendo e o sol nada.
           Vou pensando - enquanto desço e o sol não - "Volto de metrô é
mais rápido..."
          Já no metrô, me encaminho para a roleta dos idosos, e lá esta um
puto de um guarda que fez curso, sei eu em que faculdade, que
tem um olho crítico de consegue saber a idade de todo mundo.
           Olha sério para mim, segura a roleta e diz:
          - "O senhor não tem 65 anos, tem que pagar a passagem."
          A esta altura do campeonato eu já me sinto com 90, mas quando
ele me reconhece mais moço, me irrompe um fio de alegria e vou
todo serelepe comprar o ingresso.
           Com os pés doendo fico em pé, já nem lembro do sol, se baixou
ou não dane-se. Só quero chegar em casa e tirar os sapatos...
          Lá estou eu mergulhado em meus profundos pensamentos, uma
ligeira dor de barriga se aconchega... Durante o trajeto não fui
suficientemente rápido para sentar nos lugares que esvaziavam...
           Desisti... lá pelo centro da cidade, eu me segurando, dei de
olhos com uma menina de uns 25 anos que me encarava... Me senti
o máximo.
          Me aprumei todo, estufei o peito, fiz força no braço para o
bíceps crescer e a pelanca ficar mais rígida, fiquei uns 3 dias
mais jovem.
           Quando já contente, pelo menos com o flerte, ela ameaçou falar
alguma coisa, meu coração palpitou.
          É agora...
          Joguei um olhar 32 (aquele olhar de Zé Bonitinho) ela pegou na
minha mão e disse:
          - "O senhor não quer sentar? Me parece tão cansado!"

           Melhor Idade??? Melhor idade é a puta que pariu!

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