segunda-feira, 22 de outubro de 2012

APARTAMENTO ERRADO 
MILTON  MACIEL
 
      Aquela profusão de cabelos rutilantes, que na luz escassa do amanhecer pareciam até ruivos... Ruivos?!!!
 Deu um salto na cama. Seus olhos estacaram ante dois olhos muito azuis, muito lindos, muito esbugalhados:
– Heitor!
– Alice!
– Deus do céu, o que você está fazendo aqui na minha cama?
– Como? O que VOCÊ está fazendo no meu quarto e... Ei, cadê a Helena?
– Ué, tá no apartamento de vocês, é claro...
– Quer dizer...
– Quer dizer que você entrou no meu apartamento, andar errado, seu cretino. Chegou de fogo, se enfiou na minha cama no escuro e, enfim... Céus! você... enfim...
– É. Mas que loucura...
– Safado! Me comeu na marra. Seu traidor!
– Você está louca? Você me agarrou, foi passando a mão, foi pegando... Eu só queria dormir, tava de porre, pô. Não tive culpa.
– Como não teve culpa, seu abusado? Eu pensei que era o Arizinho que tinha voltado antes da viagem. E agora, Meu Deus, o que é que eu faço? 
– Ué... não sei. Acho que o melhor é a gente ficar quieto. Ninguém tem que saber.
– Claro! Só faltava você contar pro prédio inteiro que me comeu. O Arizinho te mata. Ai, ele me mata também! Ai, meu Deus, não me abre essa boca, por caridade!
– Eu, abrir a boca? E a Helena? Ela acaba comigo, vai ser o maior inferno. Vê se não vai me dar uma de Madalena arrependida e acabar contando tudo pra ela mais tarde, numa crise de consciência.
– Ai, Heitor. Você acha que eu sou assim tão retardada?
– Não acho nada. Não sei. Mulher é esquisito. Mas pode ficar fria, que eu... Pô, fria você?! Você é mulher mais quente que eu já...
– Olha o que você vai falar, seu tarado!
– Tarado, eu?!... Pô, Alice, já esqueceu tudo o que você fez esta noite, no escuro? Quem tava de porre era eu...
– Já falei que pensei que era o Arizinho. Bem, admito que eu estranhei muito. Pensei que tinha acontecido um milagre, o Arizinho tão forte, tão fogoso, sem arriar todo aquele tempo, gemendo e urrando, um espetáculo. Só podia ser por causa da bebida, pensei. O Arizinho nunca bebe. E ele nunca quis saber de fazer aquelas... Que que eu to falando, meu Deus?...
– Aquelas o que?

– Aquelas... Ah. Você sabe o que eu quero dizer!

– Ah, aquelas... É. Eu até estranhei a maneira que você urrava, parecia outra pessoa.

Era outra pessoa, seu cretino! E eu urrava, é? Urrava?

 – É, eu acho que sim, pelo menos foi como eu ouvi ali de baixo.

– Pois ouviu errado, você estava de porre, seu bebum!

– Não urrou então?

– Não, que eu não sou bicho. Tá certo que me excedi nos gritos, não deu pra controlar, nunca antes alguém tinha feito assim tão bem feito comigo. Ai, ai, esquece, eu não disse isso.

– Disse sim, acaba de dizer. Gostou é?

– Não vou responder. Ei, não puxa o meu lençol!

– Pô, você é ruiva total, toda ruivinha, não é só no cabelo. Que lindinha!

– Pára, seu animal! Já disse que não foi por querer. Me dá esse lençol!

– Tá, toma. Mas que é lindinha demais, isso é.

– Lindinha?...

– Mimosa, delicada, ruivinha. Eu nunca tinha visto assim.

– Lindinha, é?...

– Muito!

– Você acha mesmo?

– Acho. A mais linda que eu já vi.

– Verdade? Jura?...

– Juro. Deixa eu ver de novo? Só um pouquinho. Linda demais...

– Só um pouquinho...  Anh...  e você faz aquilo de novo? Só um pouquinho...

CAI O PANO. FIM DO PRIMEIRO ATO, EM RESPEITO A LEITORES(AS) MORALISTAS, INCLUÍDOS AÍ OS FALSOS MORALISTAS, QUE SÃO SEMPRE A MAIORIA ABSOLUTA E NADA SILENCIOSA. (Tanto uns, quanto outros são, geralmente, OS PIORES!)

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