terça-feira, 8 de janeiro de 2013

APÓLOGO 2

Jéssica Bianchi  - The Strings From My Violin blog


Naquele sábado, Amélia se viu obrigada a abandonar seus livros. Tinha um compromisso, por isso, desistira de reorganizar seus livros em sua pequena estante. Despediu-se dos dois irmãos e da mãe. Depois partiu. Alguns minutos depois, a algazarra começou, vinda de sua estante. Gramática, que estava em uma mesa separada, gritou para Fonética e Fonologia:
- Olhe para mim! Amélia me lerá novamente, tenho certeza. Sou peça fundamental nessa estante!
Fonética deu um suspiro. Acrescentou:
- És tão fundamental que viram necessidade de me criar para amenizar o preconceito gerado por você!
- Que preconceito?! O mundo deve aprender a escrever corretamente! E eu, como uma das gramáticas mais conceituadas, colocarei isto em prática na língua portuguesa!
Neste momento, Preconceito Linguístico retruca:
- Ô minha filha! Nunca ouviste falar em sociolinguística? Observe: você é minoria por aqui. E tenho certeza que você está aí nessa mesinha porque a Amélia irá te devolver.
- Sociolinguística: disciplina que estuda as relações entre a língua e os fatores sociais. – diz Aurélio.
 - Bobagem! Eu estou sempre em uso. E as classes de palavras? Como as pessoas iriam entender o que significa um adjetivo, um advérbio, um substantivo, um verbo?
- O aluno pode muito bem compreender o uso de advérbios, adjetivos, substantivos e verbos sem saber seu conceito! – afirma Porque Não Ensinar Gramática.
- Aff, até parece... Ouviu isso, Aurélio? Não precisamos mais saber o significado das palavras. Você será definitivamente dispensável. Aliás, soube que o Houaiss está no quarto de Amélia.
- Isto não me abala – diz Aurélio. – E sei que você está aqui porque Gramática do Castilho chegou.
- Ih, acho que você inaugurou o conceito de gramática em desuso! – debocha Fonética.
Na ponta da prateleira, onde rola a discussão, Linguística Geral ouve tudo em silêncio, até que comenta:
- Todos são fundamentais...
- Ih, lá vem o bigodudo... – reclama Gramática.
- O que seria da língua portuguesa se não houvesse uma pequena separação para que entendêssemos suas particularidades? Uma coisa é a língua, outra é a fala.
- Gente, não quero cortar ninguém não, mas estamos discutindo o assunto errado. Olha só: todos nós fazemos parte de uma área fundamental da língua portuguesa, mas estamos a vida toda debaixo da prateleira de literatura! – sugere Análise de Discurso.
- Absurdo! - exclama Preconceito.
- Nós que os ensinamos a escrever e agora se acham os donos da palavra! – diz Gramática.
- Sim, ninguém consegue ler nenhum livro daquela prateleira sem mim! – declara Aurélio. (CONTINUA NO BLOG)

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