domingo, 17 de fevereiro de 2013


NEGRINHO DO PASTOREIO 
MILTON  MACIEL

Negrinho do pastoreio,
O negócio aqui tá feio
E a esperança que eu tinha,
De encontrá a prenda minha,
(Essa mesma que eu perdi,
Que foi-se embora daqui),
Tá menor que esta velinha
Que acendo agora pra ti.

Te digo, negrinho santo,
Tu não imagina o espanto
Quando tudo eu descobri!
Um dia cheguei aqui,
Cadê minha china querida,
A mulher da minha vida
Meu encanto, meu fascínio?
Foi compadre Lupiscínio
Quem me chamou à razão:
“Bem diz que mulher tem asa
Na ponta do coração.”
Pois “Chinoca fugiu de casa
Com meu amigo João!”

Tu nem sabe, meu negrinho
Me senti pequenininho,
Destroçado, destruído
Ao saber que fui traído
Por ela, que eu tanto amava
Mas o que me preocupava,
A partir desse momento
Não era o meu sentimento,
Mas o pobre do meu piá
Que a mãe soube abandoná.

Pois me dava o maior dó
Ver aquele moleque só,
Campeando a mãe pelos canto
Chamando sempre por ela,
Gritando pelas janela...
E eu segurando o pranto!
Assim o coitado não via
Que seu pai também sofria.

E esse meu amigo João,
Querem que eu faça defunto.
Mas nós se criemo junto,
Nós era que nem irmão.
E a mãe dele, outrossim,
Fui uma mãe para mim.
Se eu mato o filho dela
E vou parar numa cela,
Como ela vai sofrê!
E eu só vou me arrependê:
Pois vai ser pior pro meu piá,
(Tem só dois ano de idade!).
Já chega a barbaridade
De a mãe lo abandoná.
Pra onde a criança vai,
Se perde também o pai?!

Se eu liquidar o infeliz
Vão dizer que eu sô um macho.
Pois por macho não tomem:
Eu reajo é como um homem
E, mais que tudo, como um pai.
Não importa se qualqué um vai
Dizê que eu sô um maula, um flocho
Que eu sô guampudo ou sô mocho.
O que me importa é o guri,
Que eu amo más do que tudo.
Que digam que eu sô chifrudo,
Mas quero é o meu filho aqui,
Protegido e bem cuidado,
Com o pai sempre do lado.

Pois, meu querido negrinho,
Não agüento vê o gurizinho
Com essa cara tristonha!
Eu passo qualqué vergonha
Pra juntá a mãe com o filho.
Tu andas nesse tordilho
Pelo pampa, pela Linha,
Encontrando o que te pedem,
(Mesmo aqueles que se excedem)
Acendendo uma velinha.
Pois também tenho um pedido
Pra fazer pra ti, negrinho:
Descobre o casal escondido,
Traz a mãe pro gurizinho!

Sei que tu podes fazê
Essa coisa, se quisé.
Pois eu tenho a maior fé
Que tu podes me atendê!
Te acendendo esta velinha,
Te suplico, meu bom negro:
Me acaba com este degredo,
Traz a chinoca de volta,
Que eu engulo minha revolta,
E engulo também o orgulho
Se ele ficar com meu filho.

Fale quem quisé falá,
Que eu sô um cornudo manso,
Que eu recuo, não avanço,
A mim poco se me dá!
Tudo que eu quero é acabá
Com a tristeza do meu piá.

Negrinho do Pastoreio,
Tu é um menino modesto,
Da vela só qué um toquinho.
Pois eu estou sendo honesto,
O que eu te peço afinal?
Isto: Separa o casal,
Traz a mãe pro meu filhinho!






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