domingo, 3 de março de 2013


ACORDE PARA A CRISE 
VERDADEIRA  
MILTON  MACIEL

Não se deixe enganar. A crise que está lá fora veio para ficar. Nada existe no horizonte que possa redimir a Europa do seu encolhimento, de arcar com as conseqüências dos seus erros acumulados. O mesmo pode ser pensado, embora de uma forma apenas um pouquinho mais atenuada, para os Estados Unidos. E, neste mundo sublunar, quando os leões ficam doentes, as gazelas e as hienas adoecem também.

Mas, qual é a verdadeira crise por trás do que vemos hoje, se o que hoje vemos apenas retrata as conseqüências dela? Ela é financeira, como parece? Não, de forma alguma, isso é conseqüência somente. A crise é ESTRUTURAL. E significa simplesmente a EXAUSTÃO DO SISTEMA, que é a verdadeira causa.

Chegamos enfim a esbarrar nos LIMITES PARA O CRESCIMENTO. Para compreender isso com toda a facilidade, eu sugiro que você faça uma experiência muito simples. Dissolva uma colher de sopa de açúcar num copo de água mineral (não pode ser a água clorada da torneira). E então coloque uma colherinha de chá de levedo de cerveja, agitando bem para homogeneizar a suspensão. Depois de algum tempo você vai ver que começam a subir bolhas dentro do copo. E essa produção de bolhas vai começar a se intensificar cada vez mais, chegando a ficar quase violenta, a temperatura no copo aumentando muito. Depois, a produção de bolhas vai começar a cair e cair, até que todo o processo, que passa a declinar rapidamente, termina.

Esse procedimento simples mostra para você como é que as usinas fabricam álcool a partir do caldo da cana moída. As leveduras são fermentos, microorganismos vivos que se alimentam do açúcar dissolvido no caldo. Você vai notar, no fim da sua experiência, que o volume de levedura em repouso no fundo do copo é agora maior do que o volume que você adicionou com sua colherinha. O que aconteceu? Ora, as leveduras, comendo açúcar, se multiplicaram, cresceram e cresceram extraordinariamente em número.  E quanto mais leveduras presentes, mais violento o processo de digestão do açúcar que produz basicamente dois catabólitos: o gás carbônico, que você vê abandonar o sistema na forma de bolhas e o etanol ou álcool etílico, que fica na solução aquosa.

E porque o processo todo, após passar por um pico de atividade, vai diminuindo até parar completamente? Ora, porque aconteceu a EXAUSTÃO DO SISTEMA. E essa exaustão tem duas causas concomitantes, que concorrem para acelerá-la do meio para o fim do processo: O fim do açúcar disponível e o aumento da poluição do sistema (álcool).

1)      O fim do açúcar disponível. Sendo o sistema finito, quanto mais leveduras novas surgirem, face à abundância de alimento disponível inicialmente, mais rapidamente ocorrerá o fim desse alimento. Claro, como se diz popularmente, “em casa em que comem dois, comem três.” Pode ser, só que a verdade é que a comida acaba mais cedo também. As leveduras, à medida que a disponibilidade de alimento se aproxima do fim, param de se multiplicar e começam a morrer. Ou seja, há agora um EXCESSO DE POPULAÇÃO para os recursos disponíveis, o que acaba de se tornar um novo problema, inexistente na fase áurea de crescimento, quando tudo era um mar de rosas e havia açúcar à vontade para todo mundo.

2)      O aumento do teor de álcool na solução. Acontece que o álcool é um catabólito  um produto de eliminação das leveduras (o cocô delas). Portanto, ele é nocivo para elas e gera POLUIÇÃO no ambiente onde elas se alimentam e crescem. Quanto maior o número de microorganismos se alimentando, maior o teor do álcool excretado na solução. A partir de um certo ponto, essa poluição vai se tornando letal e as leveduras ‘adoecem’, começam a ter o crescimento inibido, se desorganizam e começam a morrer aceleradamente.

Resumindo, como o sistema é FINITO, a coexistência de uma quantidade de alimento LIMITADA com uma explosão demográfica acelerada, leva fatalmente ao declínio e à morte da superpopulação formada. Mas, ainda antes que isso ocorra pela depleção do alimento, a poluição começa a tornar o processo de débâcle mais acelerado.

É como se animais (humanos, por exemplo) encontrassem uma quantidade muito grande de alimento facilmente disponível e começassem a comer muito, comer demais, e, na base do amai-vos e multiplicai-vos, construíssem rapidamente um quadro de superpopulação. Só que, concomitantemente, esses animais em explosão demográfica estão produzindo mais e mais cocô, que não conseguem eliminar do sistema em que vivem. Assim, quando o limite é atingido, quer de disponibilidade de alimento, quer de resistência à auto-poluição (somados), o declínio vai se de dar de forma exponencial também, tanto quanto se deu o crescimento inicial. É um cenário desolador, quando você morre por escassez de alimento, afogado em seu próprio cocô! E a existência desse cocô no sistema, vai fazer com que você ADOEÇA muito antes de começar a perceber que existe alguma coisa de errada no sistema.

Ora, para que essa história de copo dá água com açúcar e de levedura? O que isso tem a ver com a crise?

Bem, simplesmente tudo: O copo acaba de retratar para você a crise REAL: a Exaustão do Sistema.

Vamos considerar aqui dois exemplos de copo. O primeiro será o planeta Terra. O segundo, a cidade de São Paulo.

PLANETA TERRA

Considere as figuras anexadas. A primeira mostra a explosão populacional ocorrida no século XX e que continua agora. A segunda detalha um período do século XX e suas projeções. Em números, podemos dizer que a humanidade precisou milhões de anos de história para atingir seu primeiro bilhão de habitantes, na segunda metade do século XIX. Abrimos o século XX, em 1901, com 1 bilhão e meio de habitantes. E abrimos o presente séc. XXI com  6 bilhões, uma multiplicação de 4 vezes em um único século! Atingimos 7 bilhões entre Outubro de 2011 e Março de 2012. Em 2025, apenas 12 anos a contar de agora, poderemos estar chegando a algo entre 8,5 bilhões e 9 bilhões, segundo diferentes estimativas.

Quer dizer, as leveduras humanas estão encontrando bastante açúcar para comer, sua população explode rapidamente, mas os primeiros sinais de exaustão do sistema já começaram a aparecer. A poluição do ambiente como um todo, um nível crescente de gases de estufa no ar, a degradação dos solos e aqüíferos, o envenenamento progressivo das populações através dos alimentos contaminados, as doenças crônicas e degenerativas, causadas basicamente pela imposição de um sistema alimentar errado, são sinais óbvios que a componente poluição já começou a escapar de controle.

Por outro lado, é inegável o problema de abastecimento de alimentos no mundo. Com as populações sempre crescentes, a disponibilidade de alimentos não tem conseguido crescer na mesma proporção do crescimento daquelas. A conseqüência é o encarecimento gradual dos alimentos e do próprio custo de vida. E há também que considerar a crescente perda de qualidade de vida nas grandes metrópoles.

Nem todos sabem, mas o que permitiu a explosão demográfica dos últimas 110 anos não foi exatamente a disponibilidade de alimentos abundantes e mais baratos então. Isso foi conseqüência. A causa verdadeira foi a ENERGIA BARATA. E isso atende pelo nome de PETRÓLEO. É basicamente petróleo o que comemos em nossos pratos atualmente.
(a continuar na 2ª. parte)

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