terça-feira, 2 de abril de 2013


O ESPELHO DE NARCISO  
MILTON  MACIEL    

O amor a custo medra
Em um peito aferrolhado,
Onde um coração de pedra
Bate frio, descompassado.
Onde os olhos, com voragem,
Como os olhos de Narciso,
Em um delírio profundo,
Procuram sua própria imagem,
Nos olhos de todo mundo.

Na sua falta de juízo,
Na sua imensa frieza,
A narcisista se trava
Num mundo de pequeneza
E se faz, pra sempre, escrava
Da sua própria beleza.

Entregar-se a tal criatura,
Esperando ser amado,
É ignorância pura.
É condenar-se ao desgosto
Pois a Bela só tem cuidado
É com o seu próprio rosto.

Não espere ter seu amor,
Nem que suplique de joelho.
Será inútil seu fervor,
Será em vão seu anseio.
Será só uma tolice:
Porque Narciso acha feio
Tudo o que não é espelho,
Como o poeta já disse.

(O poeta: Caetano Velloso, em SAMPA)

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