sábado, 13 de abril de 2013


QUEM NOS HÁ DE LER? – 2ª. parte   
O futuro do livro impresso   
MILTON  MACIEL  

Uma tragédia anunciada – O nosso adorado livro impresso vive dias de agonia. O encolhimento do negócio de redes de livraria nos EUA é seu maior indicador. Duros tempos estes, em que se há que estar apto e pronto a sobreviver via Internet e não mais com base em amplos estoques distribuídos ao longo de vários estados e países, em centenas de livrarias próprias. O modelo Amazon, com sua gigantesca concentração de maior livraria virtual do mundo e, ultimamente, com sua nítida migração para o livro eletrônico, o e-book, sinalizou o começo do fim para as grandes cadeias de livrarias.

BORDER’S – Até 2010, a Amazon dividia o mercado americano com duas grandes redes de livrarias, a Border’s e a Barnes and Noble. A Border’s teve expressão inclusive internacional, com lojas na Austrália, Nova Zelândia e Singapura. Por volta de 2006 esse modelo de expansão encontrou o seu limite e começou a encolher. Em 2008 a Border’s teve que vender essas lojas no exterior e fechar as da Austrália, que não acharam comprador. Era o sinal dos tempos. Para a Border’s, o sinal do final dos tempos!

Em Fevereiro de 2011, a Border’s entrou com pedido de concordata e fechou 226 de suas lojas nos EUA.  Mas não conseguiu comprador para o espólio e em Julho veio a falência:  todas as restantes 399 lojas nos Estados Unidos foram sendo rapidamente fechadas até Setembro seguinte. Eu mesmo compareci a algumas das últimas liquidações em lojas de Miami e região, confesso que com um travo amargo na boca. Era um tristeza saber que a gente aproveitava aqueles preços tão baixos porque, em poucos dias, aquela livraria, aquele templo de cultura e prazer,  estaria para sempre liquidada.

BARNES AND NOBLE –  A concorrente Barnes and Noble comprou da Border’s  a marca e a lista de clientes, junto com o website, que passou a redirecionar o leitor para o site da B&N. Era o fim da Border’s e, supunha-se, o fortalecimento da única rede remanescente de livrarias de grande expressão nos EUA. Mas não foi isso que aconteceu. A revolução do e-book e a turbulência da economia americana falaram mais alto.

Na esteira do sucesso do Kindle, da Amazon, a B&N também lançou seu e-book reader, o Nook. O negócio de venda de livros físicos recuava rapidamente e o de e-books aumentava exponencialmente. Ciente de que não poderia mais se manter só com o livro físico, a B&N colocou suas grandes esperanças na plataforma Nook. Não deu certo, porém. Com a total abertura do mercado de e-books e sua pulverização entre muitos sistemas e plataformas concorrentes, que além do Kindle e do Nook, passaram a contar com o da Apple e o do sistema Android, além de outros como Kobo, de certa expressão, a fatia da B&N ficou pequena demais.

Atualmente a operação Nook está dando um prejuízo de 330 milhões de dólares. Isso está funcionando como um verdadeiro golpe de misericórdia na combalida situação da empresa, acossada pelo encolhimento constante do mercado do livro físico, que ela não conseguiu compensar com a venda de Nooks e seus respectivos e-books.

Ontem tive o desprazer e a trsiteza de postar no Facebook uma matéria do Yahoo Finance (5 Big Retailers That’ll Be Gone in 5 Years) na qual a B&N é apontada como uma das redes de distribuição comercial que deverá estar encerrada nos próximos cinco anos! Para quem se interessar, aqui está o link para o texto e para o vídeo, que tem mais material ainda: http://finance.yahoo.com/blogs/breakout/5-retailers-ll-gone-5-years-125839002.html

O fim da Barnes and Noble! O que sobrará então para nós por aqui? De fato, há poucos dias atrás veio a  terrível notícia que a B&N estava fechando sua loja de Aventura/North Miami. Não! Justo a do meu bairro?! Há anos que eu me delicio entre aquela prateleiras, naquelas grandes bancadas de liquidação de saldos, onde já comprei um dicionário em dois volumes, com as biografias de todos os astrônomos importantes do mundo desde a antiguidade, com 1500 páginas, formato de atlas, e pesando mais de quatro quilos – tudo por 11 dólares (22 reais). E no balcão do Starbucks Coffee interno à loja, que ali está de frente para as mesinhas onde a gente senta para sorver café enquanto examina dezenas de livros e revistas, com toda a calma e regalo. Pois é, como vamos sobreviver a estes novos tempos?

Por algum tempo viveremos a transição do universo dos livros impressos para o dos livros eletrônicos. Depois, os novos leitores, que estão aprendendo e ler somente nos tablets e que estenderão sua leitura adulta ao mundo das telas, de todas as telas, darão a palavra final.

TABLETS e E-BOOKS – A revolução nada silenciosa

Ontem postei uma imagem que reproduzo hoje novamente, por considerá-la emblemática e de grande poder de demonstração. Nela um grupo de crianças da Etiópia, que vivem numa zona rural paupérrima, em casebres de pau-a-pique e onde não existe escola, foram alfabetizadas e aprenderam efetivamente a ler usando tablets doados por uma ONG. Aprenderam a ler em DOIS idiomas: o seu próprio e o inglês! Com resultados fantásticos, muito acima do esperado pelos fomentadores do programa denominado: “Cada criança (do mundo), um tablet”.

Pois eu lhes peço que, na fotografia, dêem uma boa olhada para a cara do pequeninho, o menininho sem tablet: A atenção e o interesse dele, seus olhinhos brilhando de curiosidade, DIZEM TUDO! (tem uma foto bem grande lá embaixo, no final do texto). Essa é a grande diferença. Essa é a força combinada do e-book e do tablet. A mesma linguagem sedutora de cor e imagem, de animações, basicamente uma imagem televisiva e cinematográfica, é capaz de magnetizar a atenção da criança e levá-la a aprender de uma forma quase automática. Mas, acima de tudo, e aqui está o grande segredo, de uma forma PRAZEIROSA!

Mas o mais notável neste caso etíope, é que as crianças aprenderam a ler SEM PROFESSOR. O programa é auto-instrutivo e leva a criança, passo a passo, em direção a uma viagem maravilhosa e excitante de auto-aprendizagem. Isto é REVOLUÇÃO.

Agora, vocês querem saber o que motivou a aplicação desse programa à região? O governo local argumentou que seria muito CARO produzir, transportar e distribuir para cada criança TODOS OS LIVROS FÍSICOS de que elas necessitariam no curso básico, além de ter que construir salas de aula e contratar professores. As famílias dessas crianças vivem de plantar batatas e produzir mel. Todos os adultos são analfabetos. Menos uma moça, que se encarrega de carregar os tablets com um pequeno gerador solar, doado também pela ONG americana “One Laptop Per child”. Essa jovem diz que “se lhes déssemos refeições e água, eles nunca sairiam da sala de computadores, eles passariam dia e noite lá.”

Ora, TODOS OS LIVROS que uma criança precisa no curso PRIMÁRIO INTEIRO, magistralmente ilustrados, cabem num único tablet! Na sua memória interna. E vejam que não estou me referindo sequer ao uso da Internet, que obviamente não é acessível naquele lugar. Ou seja, um tablet é muito mais barato que todos os livros escolares.

Tremam, portanto, na base as grandes editoras de livros didáticos e seus lobbies junto aos professores e concorrências públicas. Seu futuro, por mais táticas “ocultas” que venham a usar em desespero, está totalmente ameaçado. Aproveitem, pois, estes últimos anos de farra do boi. Neste país, onde em 2013 deveremos publicar um total de 63 000 títulos diferentes de livros – o que realmente é um número expressivo – ainda predomina o fato de que o grosso do faturamento fica nas mãos das editoras de livros didáticos, que o governo compra às dezenas de milhões, a um preço médio de quase nove reais cada um.

O tablet certo, o tablet ético, pode mudar totalmente esse cenário. E o que quero eu dizer por tablet certo ou ético? Certamente não é o último modelo de Ipad ou Samsung de 10 polegadas, com mil sofisticações tecnológicas, para ser vendido a 500 dólares ou mais e, sob o lamentável “custo Brasil” a mais de 2000 reais. Não esse não é o tablet certo, esse não é revolucionário, esse só serve a quem já está lá, a quem pode pagar por ele. E a seus fabricantes e revendedores milionários.

O tablet certo é o tablet simples sem rebuscamentos, como o Cruz, vendido a 67 dólares. É o tablet de 50 dólares, produzido aos BILHÕES, para ser entregue a cada criança deste planeta e revolucionar todo o processo de aprendizagem e auto-aprendizagem. E que, como conseqüência, entronizará o NOVO TIPO DE LEITOR, aquele que NOS HÁ DE LER a nós escritores e educadores. E que não se contentará mais com o tom monocórdio dos nossoS livros de papel. Regozijem-se as árvores, comprem comprimidos para dor de cabeça e gastrite os executivos das indústrias de papel, das editoras, das grandes gráficas e das LIVRARIAS.

Felicitem-se os professores, um novo mundo onde poderão aprender e ensinar, e a aprender a ensinar, está chegando. A primeira coisa que eles vão adorar saber, é que vão acabar aquelas horrorosas pilhas de provas a corrigir em casa. Pode deixar que o programa faz isso sozinho no mesmo segundo em que o estudante toca na tecla final. E já trata de realimentar o aluno, redirecioná-lo aos pontos onde ele se confundiu, ao mesmo tempo em que arquiva ou manda por Internet para o professor uma avaliação COMPLETA do desempenho do aluno naquela prova específica. Tem muito mais do que isso, mas esse não é exatamente o nosso tema nesta série.

Barnes and Noble, com pré-saudade eu me despeço: Baby: bye, bye! Não, não é gozação! Vai ser duro para mim também: eu sou um viciado em livros de papel, sou livro-de-papel-dependente, benditos traficantes de livro e de cultura me induziram a esse vício quando eu era só um menininho indefeso. Só que, pelo menos, já fiz algum progresso: pois o grande problema do viciado é não reconhecer e admitir seu próprio vício.
 CONTINUA






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