quarta-feira, 1 de maio de 2013


O POETA E O GUASCA - 6  
MILTON  MACIEL  

Última estrofe da parte 5
“Que nada, meu companheiro,
Eu sou é um grande chorão!
E a dor no meu coração
Eu berro pro mundo inteiro.
Eu confesso pra você:
Sou um Alfred de Musset!”

       PARTE VI

“Outro Alfredo, meu patrão?
Também é poeta francês?
Ou quem sabe ele é talvez,
Poeta de outra nação?
Esse Alfredo Demissê
É bueno também por que?”

“Sim, ele é francês também,
Poeta famoso e muito bom,
Mas verseja em outro tom,
Que, acho eu, não lhe convém.
Esse é um chorão como eu,
Mas nada ruim lhe aconteceu.”

A vide lhe foi mais mansa
Que a do outro Alfred poeta
Quase uma festa completa
Dessas que você não cansa.
Até a morte lhe sorrindo,
Pois ele morreu dormindo.

Mesmo assim foi um chorão,
Como se muito sofresse,
Sobre ele se abatesse
A desgraça, a solidão.
A causa do seu final?
Foi a bebida o seu mal.”

“Bueno, patrão, eu entendo
O que hay com certas pessoas:
Elas no fundo são boas,
Mas na vida vão sofrendo.
Sofrem mais com a realidade.
Têm mais sensibilidade.”

A mesma dor que pra uns
É como um talho de facão,
Prá outros é só um beliscão,
Como as coisas mais comuns.
Estes soltam menos ais.
E aqueles... gemem demais.”

“Essa é a grande diferença
Entre Vigny e Musset.
Ora, certo está você,
Pra Musset a dor é imensa.
Musset sempre se atormenta,
E o estóico Vigny aguenta.

Deixe então eu lhe mostrar
A poesia de Musset,
Depois me diga você
O que ela lhe faz pensar.
Veja só este poema,
Gritar a dor é seu tema:

Quel que soit le souci que ta jeunesse endure,
Laisse-la s'élargir, cette sainte blessure
Que les noirs séraphins t'ont faite au fond du cœur:
Rien ne nous rend si grands qu'une grande douleur.
Mais, pour en être atteint, ne crois pas, ô poète,
Que ta voix ici-bas doive rester muette.
Les plus désespérés sont les chants les plus beaux,
Et j'en sais d'immortels qui sont de purs sanglots. »

Figura: ALFRED DE MUSSET

CONTINUA      

Nenhum comentário:

Postar um comentário