segunda-feira, 19 de agosto de 2013

IRACEMA

IRACEMA: VIRGEM E DOS LÁBIOS DE MEL?!  
MILTON MACIEL 

Um desse dias aí, por total acaso, caiu nas minhas mãos um livro de um autor novo, um tal de José de Alencar, de quem eu nunca tinha ouvido falar. Mas um caboclo que estava na birosca do Alves me garantiu que o sujeito é cearense, que é amigo do Raimundo Fagner e que é primo do Pé Torto, o Cidão Alencar, que foi centro-avante do Fortaleza. O Cidão, para quem não lembra, foi o cara que fez o Fortaleza perder a decisão para o Ceará dois anos atrás, quando chutou um pênalti para fora. Ganhou o apelido de Pé Torto e ganhou a porta de saída do clube. Ah, e também ganhou e estrada e fugiu, que o pessoal do Fortaleza queria corrigir o pé torto dele usando uma peixeira, para arrancar o dedão fora. E, como ninguém controla turba exaltada, o Pé Torto ficou com medo que os caras quisessem cortar mais coisas e se mandou para o Acre. Mas lá também não tem descanso, porque cearense é que nem gaúcho, sempre tem um monte deles em qualquer cidade deste mundo de meu Deus.

Mas o que o desastrado do Pé Torto está fazendo aqui? Ah, sim, ele entrou porque o caboclo da birosca do Alves  me disse que ele é primo do tal Zé Alencar, o escritor. Bom o livro do cara – Iracema –  tem uma história até que razoável, as mocinhas devem gostar. Isso se entenderem a linguagem do sujeito, porque ele escreve enfeitado pra burro, tem cada palavra mais esquisita! Na certa é daqueles que escrevem com um dicionário do lado, só pra enfiar palavra maluca e curtir com a cara do leitor.

Bem, só que o Zé Alencar andou escrevendo umas bobagens. Na certa ele ouviu passarinho cantar, mas não soube onde. Algum gaiato contou pra ele a história da Iracema e ele não entendeu direito. Ou, com a mania que o cara tem de florear tudo, resolveu limpar a barra da índia.

A começar pela coisa da Iracema ser virgem. O cara entendeu tudo errado. Como é que ela pode ser virgem no ramo de negócios dela? O gaiato deve ter falado que a Iracema é DE virgem, porque esse é mesmo signo dela. Já a Mercedita Gorda, que é a espanhola sócia dela no castelo, é de Leão. O cara só tá certo quando escreve que a Iracema é bugra. Isso ela é mesmo, conheci a dita cuja muitos anos atrás, quando ela era uma índia mais novinha, ainda tinha os peitos em pé e se virava na casa da Zélia Bunda Louca. Aí, quando a Zélia se aposentou, a índia tinha um coronel forte, um tal de Belmiro, que era um matador de aluguel muito bem sucedido. E o cabra comprou o bordel pra índia. E pra Mercedita, que ainda não era gorda e era cacho dele também.

Agora, essa história da Iracema dar mole pra português, pra brasileiro, pra turco mascate, pra todo mundo enfim... bom isso sempre foi a alma do negócio dela, não é? Tá certo que hoje em dia, com a velhice, com o barrigão, os dentes e os peitos caídos, mas nem garimpeiro que está no maior atraso, meses e meses no mato sem mulher, tem coragem de se aventurar por ali.

E é daí que vem a tal história dos lábios de mel. Tá na cara que o gaiato contou tudo errado pro Zé Alencar, só de gozação. Mas também, eu é que não culpo o cara. Quando é que ele podia imaginar que aquele cearense maluco ia botar isso num livro pra mocinhas, não é mesmo? Ou então vai ver que foi o Zé que não quis escrever a verdade, justamente porque o livro é pra mocinhas que não têm preguiça de ler com o dicionário do lado.

Mas eu não tenho compromisso com esse escritor novo, nem com a velha Iracema. Tenho compromisso é com a verdade. Então eu vou contar a história verdadeira dos lábios de mel, doa a quem doer. Quem me contou a verdade foi a Mercedita Gorda, que ainda dá um bom caldo, numa noite de muita batida de limão, depois da nossa função no quarto dela. Ela tava muito tocada, muito doidona, e deu com a língua nos dentes. Me falou que a Iracema, como não consegue mais homem nenhum, nem de graça, nem ela pagando, começou a usar uma fórmula mágica das índias velhas da tribo dela, para se aliviar.

A Mercedita me contou que a Iracema passa mel lá nas partes baixas desativadas, nuns tais de lábios. E aí só fica esperando que as formiguinhas lava-pés sintam o cheirinho do mel e subam. Então a bugra fica horas trancada no quarto ou no banheiro, na maior gemeção, diz que chega a sair zonza, quase desmaiada. A Mercedita diz que o barato não é dado pelos pezinhos das formigas fazendo cócegas, mas pelas picadas que elas dão, toda vez que Iracema se mexe de propósito, para assustar as bichinhas. Tu vê!

Bem, eu contei esse segredo e a coisa se espalhou. Pois a Iracema até gostou, porque agora ela não precisa mais se esconder para usar suas formigas. Tá conversando com a gente, entornando as suas batidas de pinga com jurubeba uma atrás da outra, e tá na maior descaração, no maior geme-geme ao mesmo tempo, revirando aqueles olhos de catarata. E onde quer que ela vá, tem sempre um carreiro de formigas atrás dela. Eita índia velha arretada!

E o bobão do Zé Alencar a falar de virgem dos lábios de mel. Ora, lábios de mel! Justo a Iracema, com aquele bafo de cachaça e aquele sarro do cigarro de palha sempre na boca. Francamente! Os lábios são bem outros, meu camarada, bem outros. E haja mel!

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