segunda-feira, 19 de maio de 2014

JOINVILLE, 2014 (miniconto)
MILTON MACIEL

– Você é louco Marcel! Parece que você nunca sente frio.

– Ora, 8 graus num 5 de Fevereiro não é nada mau, aqui em Joinville.

–Mas isso não é razão para ficar com os pés dentro da água do rio. Deve estar um gelo!

– Que nada! Exagero seu. Ah, eu adoro este rio de águas límpidas que corta Joinville! Sou capaz até de dar um mergulho agora mesmo, quer ver?

– Não, seu louco. Você está de roupa! Pare de se exibir. Isso não me impressiona mais, sabia? Já me convenci: você, só internando.

– No Hospital Local de Joinville?

– Não, num sanatório psiquiátrico no Pólo Norte, seu maluco.

– Aline, Aline! Você fala isso da boca pra fora. Aliás, por falar em boca...

E Marcel, inclinando-se, beijou Aline demoradamente na boca. Ela ficou imóvel por um instante; depois, correspondeu ao beijo timidamente. Mas falou:

– Está vendo como você é louco mesmo! De onde saiu isso? Esse beijo... por quê?

– Ora, você já disse: porque eu sou louco. Louco por você, sua tonta!

– Marcel... Não brinque com isso. No fim, você acaba com a nossa amizade que vem desde a infância e pra quê?

– Mas eu quero acabar com a nossa amizade, Aline. É o que eu mais quero, na minha loucura.

– Marcel, por favor, pare com isso, está me assustando! Por que terminar a nossa amizade? Eu não quero!...

– Mas, Aline, me entenda: eu quero que a nossa amizade acabe aqui e agora, para deixar nascer o nosso AMOR!

– Amor, Marcel? Você disse amor? Tem certeza?

– Toda a certeza do mundo, Aline. Cansei de enganar a mim mesmo. O que eu sinto por você é amor, amor de verdade. E desde menino já era assim.

Aline tomou as duas mãos do rapaz entre as suas, levou-as a seu rosto e, de repente, desatou a chorar. Chorava e ria ao mesmo tempo, os belos olhos azuis derramando lágrimas abundantes, os dentes perfeitos brilhando num sorriso de pura felicidade.

– Você me ama, Marcel? Me ama?

– Sim, eu sempre amei a menininha e amo agora a mulher maravilhosa em que você se transformou.

Aline apertou-se contra ele e o beijou – apaixonadamente, desta vez. Depois sussurrou:

– Eu sempre amei você, Marcel. Sempre!

Então saíram de mãos dadas, montaram na motoneta e subiram até o espaço do antigo castelo demolido pela Revolução.  Lá de cima, era possível ver toda Joinville, seus belos canais do rio Marne brilhando ao sol, o Bief resplandecente, o Poncelot, o cais de Peceaux, o Château du Jardin mais distante... E Marcel, enlaçando Aline, lhe propôs:

– Aline, seja minha princesa. Um dia saiu aqui de França um príncipe de Joinville e ele foi casar com uma princesa lá no distante Brasil. E dizem que, por causa deles, outras pessoas fundaram uma cidade com o mesmo nome da nossa. E que esta cidade existe até hoje e que é enorme, não é como esta nossa cidadezinha de 4000 habitantes. Eu serei o seu príncipe de Joinville e você será minha princesa do Brasil. E será minha esposa querida. Você aceita?

– Oui, monsieur le Prince de Joinville!

– Mais oui, mademoiselle la Princesse du Brésil!


(Este miniconto, publicado na Miniantologia No. 5 da Associação Confraria das Letras, de Joinville, SC, Brasil, foi uma pegadinha para meus amigos da Joinville brasileira, que, em Fevereiro, vinham de amargar um calor absurdo de 52 graus no fim de Janeiro. Eles devem ter estranhado muito a temperatura de 8 graus e o rio de águas LÍMPIDAS que corta o centro da cidade. É, eles sabem que o Rio Cachoeira deles.... arre! Só no fim eles vão entender de que Joinville eu estou falando).




Canalisée ou en liberté, l’eau de la Marne se coupe en quatre pour magnifier Joinville et, par des chemins de rivages d’une douceur empreinte de distinction, conduire le promeneur jusqu’au château du Grand Jardin.

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