sábado, 9 de agosto de 2014

A INTENTONA DE 35 

MILTON MACIEL

No terceiro copo de chope, eu já sou um cara espontâneo. No quinto, fico sincero pra

 burro. No sexto, ousado. Assim, depois de uns... (bom, sei lá quantos, não lembro mais, 

com aquela comida árabe toda, aqueles charutos de repolho) lasquei direto pro Maguito:

– Tô louco pra pegá tua irmã! Muito gostosa!

O Maguito já devia ter passado dos dez, porque ele respondeu na lata:

– Eu também! Mas essa sociedade decadente inventou essa porra de incesto...

– Tô doido pra dá uns amassos nela.

– Taí, tu tem bom gosto! Já que eu não posso, eu te ajudo.

Dei um beijo no Maguito e gritei pro garçom:

– Mais charuto de repolho. E o meu maior amigo aqui não paga nada hoje.

E o Maguito:

– Salta mais chope também. O meu cunhado aqui não quer que eu pague nada hoje.

E aí ele me segredou:

– A Sílvia tá fácil, fácil, na comemoração do coroa. E como lá só tem velho mesmo, se a gente vai, você se dá bem.

– Que papo é esse de comemoração do coroa.

– Ah, é um barato do nosso avô. Hoje é 27 de novembro. E todo 27 de novembro, ele junta um monte de caco velho que nem ele e comemoram o aniversário de uma tal de Intentona.

– Intentona? Mas quem é essa Intentona? É uma velha da patota deles?

– Não pode ser. Porque eles falam que é a Intentona de 35. O velho tem pra mais de 80 anos. Pode ser uma pilantra de 35 anos, que dá mole pros velhos e arranca uma grana deles. Se bem que, no caso do meu avô, quem dá mole é ele mesmo. Dura é que ele não vai dar.

E o Maguito se afogou com o chope, de tanto que riu do velho. Aí eu mandei ver:

– Pô, vamo logo pra essa tal de comemoração, to doidão pra pegá tua irmãzinha.

Paguei e a gente errou a saída, saímos foi no pátio dos fundos do restaurante. Lá tinha uma moto com a chave no contato. A gente montou e saiu a toda. Na porta do restaurante tive a impressão de ver o nosso garçom correndo desesperado. Mas acho que foi coisa do chope.

Porra, o Maguito dirige moto mal pra burro! Ou vai ver que foi o chope! Afinal a gente chegou no tal clube não chegou? Tá certo que antes a gente entrou numas vielas bem pau da Rocinha, uns caras lá mandaram chumbo na gente, o maior barato, a gente caiu na gargalhada, porque os panacas atiravam mal pá caralho,  não acertaram um único teco na gente! Afinal, o tal clube ficava em São Cristóvão, não sei o que o Maguito foi fazer na Rocinha, se a gente saiu do Catete.

Mas o que importa é que nós chegamos lá. Aí o Maguito perguntou onde eu ia estacionar o meu carro. Arrepiei:

– Pô, é mesmo cara, a gente foi no meu carro, de onde saiu essa moto?!

Bom filosofia numa hora dessas não adianta nada, a gente já estava no tal clube, o negócio era entrar logo, porque eu tinha dois problemas agora: Um: eu tava louco pra encontrar a irmã do Maguito e dar uns amassos nela; Dois: aquela idéia de misturar chope com comida de boteco árabe e um monte de charuto de repolho tava me causando uma rebordosa no baixo ventre. Avisei o Maguito:

– Vai desentocando a gata pra mim, eu tenho que achar um banheiro antes, emergência!

Mas nessa hora a Silvinha apareceu, toda bronzeadinha, com um vestidinho branco que acabava meio palmo abaixo da calcinha (era branca também!). Aí eu pirei. Dane-se o banheiro, pra que um homem tem força de vontade?

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