sábado, 31 de janeiro de 2015

SÃO  SEBASTIÃO  DO 20 DE JANEIRO    
MILTON  MACIEL   

Saúde, São Sebastião.
Do meu Rio de Janeiro,
Que vida dura, mermão,
Tu se ferrô por inteiro!
E, nas mão duma cambada,
Morreu cheio de frechada.

Saúde pra tu, meu santinho,
Que eu te brindo, camarada,
Com a pinga deste copinho,
Que afanei duma namorada.
(O nome dela eu nem lembro,
Foi uma das de... Setembro).

Não faça cara de espanto
Porque o copo não tá cheio.
Acontece que o otro meio
Eu derramei pro otro santo:
O de cabeça, sacumé?
(E eu nem sei quem ele é!)

Não que eu tenha muita fé,
Mas eu que não vô arriscá.
O santo é de candomblé,
Vai que quera me ferrá!
E, por um pingo de cachaça,
Eu não quero mais desgraça.

Fé mesmo eu tenho é em tu,
Meu santo São Sebastião,
Trouxe água do Rio Guandu
E pinga do bar do Alemão.
Vim a pé lá de Bangu,
Prá nossa negociação.

Eu te ofereço os bagulho
E essa minha caminhada,
Que me deu um puta orgulho:
Seis quilômetro de esticada!
Sacrifício pra tu, meu santo,
Pra tu tirá meus quebranto.

São Sebastião das frechada,
Tu é o santo dos como eu,
Que vivo levando porrada.
Minha fé eu tu só cresceu.
É que tu é um santo ferrado,
Como este seu camarado.

Só nas mão dos meus patrão
Eu como cada cortado!
Mas tem uma coisa, mermão,
Não nasci pra sê empregado!
E nem patrão! Pra completá:
Não nasci pra trabalhá.

Agora, tocá meu pinho
E entorná minha cachaça,
Enroscado no corpinho
De uma bela cabrocha,
De uma mulata sestrosa:
Isso é que é vida gostosa!

Olha o que eu vim suplicá
No dia da tua festa:
Faz a Jurema voltá,
Aquela cabrocha honesta.
Ela diz que se cansô
E onte me abandonô!

Como a coisa vai ficá
Lá no meu barraco, agora,
Se a Jurema for embora?
Quem é que vai trabalhá?
Quem vai mantê, garantida,
Pinga, cerveja e comida?

Que eu tenho otras cabrocha
Disso se queixa a ingrata.
Ora, pior se eu fosse brocha,
Nem pra ela, nem pras gata!
Ora, pra ela tem sobrando,
Do que que está reclamando?

Por isso, meu santo ferrado,
No instante da minha aflição,
Ajude o seu camarado
E aceite a negociação:
Entenda a minha revolta
E traga a Jurema de volta!

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