terça-feira, 11 de dezembro de 2012


O DESCOBRIMENTO DO BRASIL   
MILTON MACIEL  

Dizem que um certo Cabral,
Movido pela intuição,
Jogou sua embarcação
Pro lado oposto do oceano.
Só que esse era seu plano
Desde o início da empreitada.
Ora, que intuição, que nada:
Tudo coisa planejada.
Por uma mente genial!

Então pra não dar na vista,
Pra não parecer conquista,
Mandou contar em Lisboa
Que perderam a rota boa
Por culpa da calmaria;
Quando o que ele queria
Era aportar no Brasil
No final do mês de Abril.
Já que o esperto Cabral
Pensava que o Carnaval
Era então que acontecia
Lá pras bandas da Bahia.

Pois o nosso bom Cabral,
Que era um tanto tarado,
Sabia, que em carnaval,
Todo mundo anda pelado.
Errou quanto à data o gajo,
Mas acertou quanto ao trajo,
E o que viu, melhor ainda:
Um monte de índia linda
Com as coisas todas de fora.
Pensou: Não vou mais embora!
Desceu da nau abrasado,
Soltando fogo das ventas.
Só não gostou, por seu lado,
De coisas que achou nojentas:
Os  índios também pelados,
Com os troços dependurados,
Como a coisa mais normal.

Ta bom, já que é carnaval,
Melhor aceitar contente
O costume dessa gente,
Pensou o astuto Cabral.
E Cabral, contente, aceita
Pois o que espera, confiante,
É a primeira índia que deita,
No mato com o Comandante.

Fartaram-se os marinheiros,
Foram pros matos, faceiros,
Com as índias a rebolar.
Mas para os índios, coitados,
Nenhuma mulher à vista
Da parte dos lusitanos.
Ah, comédia dos enganos!
Ainda que o índio insista,
E espere a retribuição,
Ficaram todos na mão:
Mulher branca não havia,
Pra retribuir na Bahia
Aquilo que as índias davam.

Por isso, desde o começo,
Desde o primeiro tropeço,
Da nossa diplomacia
(Só o nosso lado cedia!),
Faz-se injustiça profunda,
Pois nada é mais verdadeiro:
Entra com o cravo o estrangeiro
E o Brasil entra com a bunda.

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