quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O  “300”
Ou: A precoce vocação “política”
MILTON MACIEL

Título estranho, não é? Muita gente reclamou: Por que você não escreve por extenso: o Trezentos? Bem, se você tiver um pouco de paciência, vai ver que só usando o numeral é que eu posso contar a história direito.

O 300 é meu cunhado. É, mas não é culpa minha! Cunhado a gente não escolhe, vem junto com o pacote de casamento. Inteiramente grátis. Quer dizer, isso para os cunhados dos outros. O meu não veio de graça coisíssima nenhuma. O que ele me custou de cara, virou o apelido dele. Vou contar.

A irmã dele e eu – a gente na casa dos 20 anos – estávamos no maior corpo a corpo no sofá da sala da casa dela. Todo mundo tinha saído, disso a gente tinha certeza. Pois então de onde é que surgiu aquele molequinho de nove anos apenas, com uma câmera fotográfica na mão? Ela curvada de joelhos, eu por trás dela, como que ajudando ajudando numa reza  tipo muçulmana, o tipo da coisa que se faz usualmente sem roupa, e aí ouvimos um clic!  Claro, era o capeta! Ele estava vendo tudo há não sei quanto tempo e tinha ido pegar a câmera do pai, que ele, precoce em tudo, já sabia usar.

A Neide deu o maior grito de pavor e correu com as roupas pro banheiro. Eu comecei a correr atrás do moleque, mas não rendia, tinha que ir me vestindo no caminho. Quando acabei de botar tudo, menos os tênis, ele já tinha corrido pra casa vizinha. E ali, da calçada, olhando triunfalmente pra mim, ele gritou:

– Manhêeee!

Puxa, a mãe estava ali do lado! Eu estava ferrado, tinha que impedir que aquele desgraçado contasse tudo e, pior, mostrasse o que tinha fotografado. Felizmente, naquele tempo era preciso esperar a revelação do filme, se fosse hoje, com máquina digital, eu tinha dançado na mesma hora.

O pai da Neide era um desembargador aposentado e o sujeito mais careta que eu já conheci. Ele tinha certeza que a filhinha dele era virgem. Vivia alardeando isso. Bem, ele estava absolutamente certo, mas só até que a sua inocente Neidinha fez quatorze anos. Depois disso, ela se divertia escondida, que remédio. Sabe como é, porteira que passa um boi, passa uma boiada. Mas, para o pai, ela mantinha a farsa da virgindade. Velho cretino!

Bom, a gente estava namorando há uns seis meses, éramos ambos jovens e liberais, acabamos nos gostando de verdade. Assim quando analisamos a tempestade que ia rolar assim que o capetinha contasse o que viu e entregasse a câmera ao pai, eu não tive dúvida:

– A gente casa!

A Neidinha não esperava essa minha atitude, caiu no maior chororô, levou mais de meia hora derramando lágrimas comovidas e me beijando apaixonada. Decidimos a estratégia a utilizar: eu ia pra casa, ela saía pro shopping e eu convocava meu velho para vir conversar com o velho dela, fazer o pedido. Aí a gente, se não anulava, pelo menos minimizava os efeitos devastadores de uma revelação bombástica do tipo: Sua filhinha não é mais virgem, estava dando de quatro...

Mas sabe o que aconteceu? Antes que eu saísse da sala, o diabo do moleque reapareceu. Sem a câmera, é claro. A Neide tentou aplicar o golpe da irmã boazinha, chorou, pediu, implorou. O moleque nem aí pra ela. Só olhava pra mim. Aí eu entrei na jogada, tratei de comprar o silêncio dele, perguntei se ele queria uma bola nova, um par de patins, um monte de outras coisas de guri e ele... nada! Por fim o pestinha falou:

– Quero uma carteira como a sua. Posso ver?

Tirei a carteira de couro, cara pra burro, e mostrei pra ele. Ele, sem cerimônia nenhuma, a tomou da minha mão e examinou tudo o que tinha lá dentro. Só se interessou pelo dinheiro. Tinha três notas de cem, que eu tinha acabado de retirar do caixa automático. Ele pegou as notas. Trezentos (300)!!!  Aí sacudiu a carteira invertida, fazendo cair o restante do conteúdo, retirou os documentos e colocou as três notas de volta. Fechou a carteira e se mandou com ela.

Da porta ele me disse:

– Fica frio, não vou mostrar pra ninguém, não vou falar nada. Quer dizer, só vou falar que você me deu a sua carteira de presente. Sem dinheiro, é claro. Vocês confirmem. Eu já sei botar e tirar o filme da câmera, já tirei e guardei bem escondido aquele lá. Sabe como é, garantia pro meu futuro, não é?

Nós ficamos ali bestificados. Nove anos! Que prodígio de mau caráter  temporão! Recordista mundial de precocidade em chantagem e extorsão! A Neidinha voltou a chorar, desconsolada. Eu, depois de pensar um pouco, tratei de acalmá-la.

– Meu amor, não precisa ficar com medo. Esse bandidinho vai ficar me achacando enquanto puder. Então a gente dá uma volta nele antes: Vamos manter o nosso plano. Eu vou em casa, conto tudo lá, meu velho é meu grande amigo, tenho certeza que ele vem hoje mesmo acertar os ponteiros com o seu. Enquanto isso, você trabalha a sua mãe. Quando o seu velho souber do estouro da boiada, ela ajuda e segurar e o meu pai, também. Aí eu apareço, junto com você, a gente dá uma de pecador, de Madalena arrependida, e trata de marcar logo a data do casamento.

Meu pai é um gênio! Chegou todo feliz na casa do desembargador, trouxe charutos (nenhum dos dois fumava!) e uma garrafa de champanhe. Explicou que era para festejar o casamento dos filhos deles, o desembargador ficou de queixo caído, mas gostou da idéia, nossa família é bem conceituada na praça. Aí ele completou o tratamento, dizendo que a juventude de hoje em dia não tem mais cabeça, não sabe resistir às tentações, os dois tinham caído em pecado. Mas o filho dele era um homem de caráter, estava pronto para reparar o mal que fizera à moça, sabe, esse papos ridículos do século XIX. O velho dela primeiro quase enfartou. Depois, com a praticidade dos desembargadores, viu que o barco já tinha mesmo afundado e aceitou marcar o casamento para dali a quatro semanas. Melhor não facilitar, sabe como é.

Pois foi assim, graças àquele moleque sardento, que eu casei com a Neidinha às carreiras. Não posso me queixar. Foi bom e continua sendo, a gente se gosta e se entende bem demais. Sou até obrigado a agradecer: Obrigado, 300!

Ah, sim, eu botei esse apelido nele, só o Neidinha sabia por quê. Foram os trezentos que ele me afanou, na sua primeira extorsão. Tive que aguentar outras, até o dia do casamento. Ele só aceitava dinheiro. E só notas bem novinhas. Acho que ele me arrancou uns oitocentos nesse tempo todo, incluindo aí o lance da compra final do filme não revelado.

Paguei achando que tinha sido tapeado, mas quando fui buscar a revelação, pelas risadinhas das moças da loja de fotografias, vi que era o filme autêntico. No fundo, o moleque foi até onde podia me arrancar algum, mas tinha resolvido poupar a irmã. Sinal que devia ter algum resíduo de ética naquele bandido temporão.

Ledo engano! Aquela foi a sua última ação ética na vida. Com ela, ele esgotou o estoque permanentemente. Bem, de cara eu saquei e falei pra irmã dele, já no dia seguinte ao flagra:

– Seu irmão tem uma grande vocação, pode escrever o que eu digo. Ele é um político nato. Procede com se já fosse um deputado federal, um DEPUFEDE, como dizia o Stanislaw Ponte preta. Eu tenho certeza que vou ver esse moleque envolvido com política, com tudo que é maracutaia do ramo, é só uma questão de tempo.

E não deu outra. Nestes trinta anos que se passaram desde o primeiro golpe dele, aplicado em cima de mim, o cara já foi: Tesoureiro encrencado da União Estadual de Estudantes. Depois, o mais jovem síndico de prédio, exonerado pela Assembléia dos Condôminos por superfaturamento das contas. Aí arranjou um misterioso patrocinador e foi se eleger o mais jovem vereador da cidade Criciúma, em Santa Catarina, onde ele nunca tinha pisado. E agora está em plena campanha para Deputado Federal pelo Estado do Amapá. Disse que aprendeu a lição com a raposa que é o atual padrinho político dele, que sempre se elege senador por lá, sem nunca ter feito política no local. 

Eu fico satisfeito, por que cantei essa pedra quando o ladrãzinho tinha só nove anos. Deputado Federal, não ia dar outra coisa! E vou estender a minha profecia agora: nunca mais ele deixa de se reeleger.  E nunca vai querer ser outra coisa, senador, governador, ministro. Não dá. A vocação dele é só uma: DEPUFEDE. E com ele vai ser assim: “Uma vez DEPUFEDE, sempre DEPUFEDE. DEPUFEDE sempre eu hei de ser...”

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Ah, o BARROCO! 
MILTON  MACIEL

Barroca é minha alma.
Vivaldi, Bach, Haendel.
Corelli, Albinioni, Palestrina...
E por aí vai.
(Perdão, Vangelis, você entende, não é?
Você vem logo depois...)

Barroca é minha alma.
É a música que me transporta,
Me faz rir; e chorar alegre, em transportes de puro êxtase.
Me leva instantaneamente a campos verdes,
Diáfanos, iluminados, cheios de vida,
De flores, de orvalho, de pureza, de amores.
E a noites iluminadas de saraus e de luares felizes
E, acima de tudo,
Me faz gostar de viver!

Me faz querer escrever sobre o belo
E sobre o sublime
E sobre o alegre.

Não creio que um poeta possa queixar-se, fossento,
Lamuriar-se, choroso, sobre seu próprio umbigo,
Estomagando-nos a vida com seu derrame de bílis,
De mal com a vida e morrendo de auto-piedade,
Fazendo jogo de palavras mal-amadas;
Não, não creio que ele possa atormentar-nos com sua escuridão,
Se ele estiver escutando um mestre barroco!
Não, eu não creio!

Barroco cura fossa,
Suspeito que pode curar depressão.

Da próxima vez que você quiser destilar fel,
Simplesmente troque a música. Ouça barroco!
Faça as pazes com a vida.
Ligue para ela ou para ele...
Peça perdão, compre flores.
Corra para lá.
Mas deixe o som do carro a vibrar barroco.
Para não ter recaída e decepcionar seu amor, coitada(o).
Outra vez!...

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

DIÁRIO DE UMA DIETA ATRIBULADA
Ou De como Emagrecer para Entrar num Vestido
MILTON  MACIEL

Encontrei ontem o diário ultra-secreto da Maria Regina. Passei a noite toda lendo. Indiscrição? Claro que é! Mas quem disse que eu sou discreta? E também com tudo o que aconteceu, vocês vão acabar me dando razão. Eu li tudo e vou fazer mais: vou mostrar pra todo mundo. No fim vocês vão me dar razão. Vejam só, vou mostrar aqui só algumas páginas, as mais interessantes, por que a xaropada é muito grande:

23 de Novembro. Querido diário, estou tão feliz! A Mariana me convidou para ser madrinha no casamento dela. Eu, madrinha, que maravilha! Puxa, justo a Mariana, tão pernóstica, tão metida a besta. Não, Meu Deus, que que eu estou dizendo! Não, a Marianinha é muito querida, imagina, me convidou para ser sua madrinha. Ela é um amor.

24 de Novembro. Querido diário, hoje eu tive que fazer aquilo. Tive, sim, não teve jeito. Pois é, subi numa balança! Droga, levei um susto, claro, depois de tanto tempo... Bem, eu admitia para as pessoas que estava acima do peso ideal. Quanto? Ah, uns dois quilos. Não, uns cinco talvez. Mas elas pareciam não acreditar, olhavam de um jeito tal que eu me sentia um baleia, como se tivesse dez quilos de excesso. Bem, então com a história do casamento, do vestido, sabe como é, eu tive que subir na balança. E sabe o que a desgraçada me disse: que eu estou com quinze quilos a mais. Quinze! Por isso é que eu não gosto de balança. Eu odeio balança!

27 de Novembro. Querido diário, estou animada de novo. Depois da depressão do encontro com a balança, fui à costureira e escolhi o vestido que ela vai fazer pra mim. Um arraso! Tá na cara que eu vou ficar mais bonita que qualquer outra, até que a própria noiva. Fiquei super animada. Tanto que corri para o médico e consegui ser atendida na hora, de tanto que eu fiz chantagem, que ia me matar, que estava em depressão profunda, não vou contar o resto que eu tive que fazer, mas ele me atendeu na hora. Vou entrar em dieta! Vou perder logo, logo, esses malditos quinze quilos.

1 de Dezembro. Querido diário, estou animada. Hoje é o meu quarto dia de dieta e eu estou me sentindo ótima. Acho até que vou me pesar. Estou ansiosa. Mas o médico disse pra esperar uma semana. Vais ser difícil. Eu odeio esperar!

2 de Dezembro. Querido diário, difícil é fazer essa dieta! Ontem não resisti, tive que dar uma quebradinha. Mas foi só de noite, na pizzaria com a turma. Só quatro pedaços, e olha que era rodízio. Mas hoje estou de volta ao rigor. Espartana! Eu sou forte. Tenho força de vontade!
4 de Dezembro. Querido diário, estou arrasada. Subi na maldita. Perdi peso, sim. Sabe quanto: 500 gramas! Só meio quilo depois de uma semana comendo capim e peito de frango grelhado, coisa mais insossa e horrorosa! Uma semana sem botar um chocolate, um docinho que fosse, na boca e aquela ingrata me apronta uma dessas... Eu odeio balança!

11 de Dezembro. Querido diário, a coisa vai mal. O casamento é em 14 de Janeiro. E eu tenho que estar esbelta para entrar naquele vestido maravilhoso. Ontem foi o dia da primeira prova. A costureira fez como eu pedi, bem nas medidas do manequim que eu sei que vou ter na semana do casamento. Resultado; não entrei no vestido, é claro! Saco! Pra piorar, aquela velha azeda ainda resolveu me dar lição de moral. Me esculachou, disse que eu devo estar tapeando a dieta. Quatro-olho desgraçada! Como era a segunda semana de dieta, subi de nova na maldita, só pra desfeitear aquela insolente. Pois é, eu estou dois quilos mais magra! Dois quilos! Velha nojenta...

14 de Dezembro. Querido diário, hoje tive uma recaída. Também, vi o Rodolfo com a nova namorada dele! Foi a primeira vez. Fiquei arrasada. Eu precisava de algo urgente pra esquecer. Entrei na primeira confeitaria que achei e me entupi de sorvete e torta, fiquei uma duas horas lá dentro, comendo e chorando escondida. Ainda sobrou um pouco de torta, trouxe pra casa. Hoje não tem dieta! Estou arrasada de novo. Eu odeio o Rodolfo!

18 de Dezembro. Querido diário. Hoje é dia de subir na maldita. Não vou. Não quero me aborrecer, me irritar com aquela filha da puta. Vou deixar para depois de amanhã, afinal tenho retorno ao médico mesmo. Puxa, vou ter que maneirar. Não, vou ter que fazer um puta dum esforço, senão o cara vai pegar no meu pé pra valer!

20 de Dezembro. Querido diário. Acabo de chegar do médico. Não preciso dizer nada, não é? Foi horrível. Três quilos em três semanas!... Se bem que eu acho que a balança dele deve estar bem errada, pelo menos uns três quilos a mais. Nas minhas contas, eu já devo ter perdido mais de cinco quilos. Amanhã vou até me pesar na maldita, só pra confirmar a minha certeza. Eu odeio balança de médico!

24 de Dezembro. Querido diário, estou firme como um rochedo, um poço de força de vontade. Subi na maldita e ela me disse que eu já perdi quatro quilos! Vitoriosa! Será? Quase um mês e quatro quilos? É, é pouco, o casamento é em 14 de Janeiro. E o pior é que hoje é noite de Natal. Eu adoro Natal. Como é que alguém pode ficar de dieta numa festa de Natal? Ainda mais com a montanha de coisas boas que a vai ter na casa da minha avó!

25 de Dezembro. Querido diário, eu odeio Natal!

31 de Dezembro. Querido diário, voltei à dieta pra valer depois daquele Natal desgraçado de comilança. Subi na maldita hoje: cinco quilos! Até que estaria razoável, não fosse pela noite que vem aí, não é? Noite de Ano Novo. Ah, eu adoro Ano Novo, foguetório, champanhe (sempre bebo demais) e aquele montão de coisa boas (sempre como demais).

1 de Janeiro. Querido diário, eu bebi demais. E eu comi demais... Eu odeio Ano Novo!

4 de Janeiro. Querido diário. Sabe o que a maldita teve a coragem de me dizer? Pois é, que eu continuo só nos cinco quilos. E o casamento é daqui a 10 dias! Estou entrando em desespero. Pra piorar, hoje foi o dia da segunda prova na costureira. Ah, nem vou contar como foi horrível. Eu me descontrolei (dei para andar muito nervosa ultimamente, nem pareço eu), xinguei a velha, falei que ela errou as medidas. Ela não disse nada, mas em compensação, durante a prova, me encheu de alfinetadas a toda hora. Desgraçada. Eu odeio costureiras!

5 de Janeiro. Querido diário, sonhei com chocolate a noite inteira. Um chocolatào macho, gostoso como só, eu mordia ele em cima, ele transava comigo por baixo, que sonho maravilhoso! Acho que passei a noite gozando duplamente. Acordei exausta, mas feliz, aliviada. Aí eu não subi na maldita, é claro. Tomara que eu tenha esse doce sonho gostoso outra vez esta noite. Vou até dormir mais cedo.

6 de Janeiro. Querido diário, essa dieta está acabando com os meus nervos! Tive outro sonho enorme esta noite, Mas em vez de ser a delícia do chocolatão, sonhei foi com a bruxa da costureira. E ela passou a noite toda me espetando som uns alfinetes enormes, pareciam agulhas de tricô. E rindo da minha cara. E como se não bastasse, o médico entrava no sonho, mandava eu tirar o vestido e ficava pegando nos meus peitos, mostrando pra costureira onde ela tinha que passar a tesoura para tirar o excesso. Acordei emputecidíssima, é claro!

7 de Janeiro. Querido diário, falta um semana pro maldito casamento. Não agüentei a pressão, estou nervosíssima, super chateada, super irritada! Estou aqui pensando quem foi que eu ainda não xinguei esta semana. Briguei com todo mundo! E, depois do sonho do chocolate, eu não consigo mais ficar sem a minha barrinha diária, recaída da braba. Caramba, eu preciso de doce! Eu preciso de comida! E sabe o que mais? Eu preciso de macho, tá! Tô numa secura danada desde que o Rodolfo se mandou com aquela magricela ossuda. Ah, se pelo menos eu  tivesse o sonho com o chocolate de novo...

8 de Janeiro. Querido diário, sonhei com chocolate de novo! Mas dessa vez não foi legal. Nem bem transei, fiquei grávida. Em instantes eu estava com um barrigão gigantesco. E aí passei o resto da noite parindo tudo que é tipo de chocolate, até caixas enormes de dúzias eu pari. Foi horrível! Essa dieta esta acabando comigo! Acho que vou largar tudo...

9 de Janeiro. Querido diário, cinco dias para o casamento. Cinco quilos é tudo o que eu perdi, sofrendo como um condenado no deserto. É injusto! Será que Deus existe mesmo? Porque, olha, o que eu tenho rezado desde o começo dessa dieta desgraçada... Ah, que bom se eu tivesse mais tempo!... Por que essa assanhada da Mariana tinha que casar logo agora? Por que ela não adia essa droga de casamento? Ei, taí uma boa idéia. Se o casamento for adiado, eu tenho mais tempo pra emagrecer! Acho que vou pensar nisso. E quer saber que mais, querido diário? A culpa de todo esse meu sofrimento é da Mariana mesmo. Não sei por que essa pernóstica, essa emproada, essa nojentinha, foi inventar de me convidar pra madrinha.

10 de janeiro. Querido diário, essa Mariana é minha inimiga! Só pode ser, estive pensando muito. Sabe por que ela me convidou? Foi pra tirar uma onda comigo. Ela sabia que, se eu fosse madrinha, ia ter que entrar num vestido novo, ia ter que emagrecer. É isso, como é que eu não percebi na hora?! Burra, era só dizer não e ela que fosse derramar a maldade dela em cima de outra. Eu odeio a Mariana!

11 de Janeiro. Querido diário, já sei como me livrar desse pesadelo. Começa que já parei a maldita da dieta hoje mesmo. Chega! Vou pro rodízio de pizza de novo hoje. E vou comprar um monte de chocolate e de sorvete. O vestido pro casamento? Que casamento? Esquece, não haver nenhum casamento! Como? Ah, me aguarde, você não perde por esperar. Nem aquela desgraçada da Mariana. Ela vai ver o que e bom pra tosse. Nunca mais ela convida outra... digamos, levemente rechonchudinha pra madrinha de casamento. Eu odeio a Mariana!

12 de Janeiro. Querido diário, está feito! Já mandei a carta pro Antonio. É, Antonio, o noivo. Diário, me superei! Nunca mandei uma carta anônima tão bem feita como esta, palavra! Mas nem aquela que enrolou o Padre Augusto naquela investigação de pedofilia, que eu considerava minha obra prima. Estou orgulhosa de mim. Só quero ver se vai ter casamento agora! Olha, diário, as coisas que eu contei naquela carta deixam qualquer cafetina de bordel morta de vergonha. Carreguei nas tintas mesmo! Além de contar todos os podres da Mariana, que não são poucos, o que eu inventei de sacanagem deixa o livro da Bruna Surfistinha no chinelo. Eu sou um gênio. Agora aquela filha da puta vai se ferrar. Eu odeio a Mariana!

13 de Janeiro. Querido diário, o circo pegou fogo! Tá o maior escândalo na família. O corno do Antonio entrou aos berros na casa da Mariana, falou que não casa mais! Fiquei sabendo agora, a Gilda me ligou toda feliz com a fofoca. E aí aproveitou pra me contar mais umas da Mariana, que ela diz que ouviu da Amanda, que foi empregada na casa daMariana por uns tempos. Bem feito! Se eu soubesse antes...

14 de Janeiro. Querido diário, vai ter casamento!!! Pois o corno do Antonio acreditou em tudo o que a Mariana e a mãe dela contaram. Que é tudo mentira, que a menina é inocente, que é invenção de alguma maluca despeitada, de um espírito diabólico, um monte de besteiras mais. O cara é muito trouxa mesmo, vai ter a maior galhada da história de São Paulo, ele que se prepare. Se já começa relevando assim, aí mesmo é que a Mariana vai se servir. Corno manso! Eu odeio a mãe da Mariana. Eu odeio a Mariana! Eu odeio o Antônio! Eu odeio todos os cornos mansos, uns sem caráter, uns bunda–moles! Eu odeio casamento! Eu só amo o meu chocolate... Quero mais!...

Pois é, aí parou o diário, foi a última pagina. Quando aquela gorda doida entrou na igreja atrasada, depois que a cerimônia tinha começado, usando um vestido salmão que não fechava nas costas, na bunda, nas coxas, em lugar nenhum, com a roupa de baixo aparecendo, toda lambuzada de chocolate e gritando que odiava casamento, que odiava toda e qualquer pessoa ali presente cujo nome ela lembrasse, que odiava o padre, que odiava a Mariana e que odiava o Antônio... Céus, foi um Deus nos acuda! Seguraram aMaria Regina, que estava no maior surto, e chamaram socorro médico urgente. Ela saiu de lá em camisa de força, xingando o Antônio de corno manso, a Mariana de puta e entregando fácil, fácil quem tinha sido a autora da carta anônima.

Pois é, ela está internada até hoje. Por isso eu remexi nas coisas dela até encontrar o esconderijo secreto do diário. Não me arrependo. Agora vocês sabem quem é a Maria Regina. Estou contente. Eu odeio a Maria Regina!

Mariana? Na Europa ainda, com o corno do marido, lua-de-mel. Ela me ligou ontem, falando que está meio de rolo com um sueco lindo, que está no mesmo hotel deles, em Gstaad. Essa MarianaMaria Regina é que está certa: uma putinha!

terça-feira, 16 de agosto de 2016

¡ME ADMIRA LO IMPORTANTE QUE ERES!
MILTON MACIEL   (POESÍAS EN ESPAÑOL)

¡Te crees tan importante!
Y tratas de imponerte a los otros.
Corres para ganarte la plata.
Corres para comprarte las cosas.
Corres para satisfacer tus deseos.
Este es tu mundo.
En el, orbitas alrededor de tu Ego.
En el, te crees muy importante
Y procedes como si fueras inmortal.

¡Pero no lo eres!
Dime si te espera escondida la molestia,
Si te ataca a traición  por la espalda,
Si te arroja en la cama de un hospital
Y te vuelves incapaz por un largo rato…

Se te fue la salud.
No puedes mas ganarte la plata
Ni puedes mas comprarte las cosas.
Ni puedes mas imponerte a los otros
Así que… se fue tu importancia!
¿Quien eres ahora en una cama de hospital?
Te pegan, te vuelven, te lavan, te pinchan.
Te ponen aparatos…
Y, por más que te visiten…
Estás solo. ¡Irremediablemente solo!
Con tu incompetencia, tu dependencia, tus dolores…

¿Quien eres tú ahora?
¿Donde está tu importancia?
¿Donde está tu arrogancia?
¿Quien eres tú ahora?
Fíjate: ese desvalido en el lecho eres TU!
Tu eres ESE en la cama, no el OTRO.
Entonces aprende ahora:
Ese es tu verdadero yo,
No el que lucías en el mundo exterior,
Para imponerte a los otros.

Y si te vuelve la salud,
Y si vas a poder retomar tu vida allá afuera,
NO LO OLVIDES:
Tu eres, en verdad, ese que está en la cama ahora.
No salgas para ser otra vez la marioneta que fuiste,
No salgas a repetir la vida que viviste
(Que, incluso… acabó con tu salud).
Cambia ahora! Y vive tu VERDAD!

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O  PIOR  CEGO  
MILTON MACIEL

Todos os bálsamos os enamorados inalam, em sua paixão. O mesmo não se pode dizer das luzes. Vêem poucas, quase nenhuma: o sol, raras vezes o farol do caminhão em frente, a luz vermelha do sinal. Mas, permanentemente, são capazes de ver a luz que vem de sua amada. É plena, ofuscante, perpassa-os com os fótons mágicos que criam os devaneios.

Com Luiz Felipe não haveria de ser diferente. Consumia-se em paixão por Ana Cláudia; desdobrava-se a seu redor, como um protoplaneta em estado nebuloso gira em torno de sua estrela.

Bom amigo, Alfredo tentou abrir um pouco aqueles olhos inebriados para a luz da razão:

– Mas a Ana Cláudia não deixou o Lucas pra viver como o Evandro?

– Ora, isso foi há mais de um ano. Que importância tem?

– Mas aí ela não traiu o Evandro com o Jonas, lá da Concessionária?

– E ela fez muito bem. Ela me contou que o cara era um sádico.

– Nossa, o Evandro?! Ele batia nela? Ou era sadomasoquista, daqueles de chicote na mão e algemas?

– Não, não era isso. O panaca era sádico com o cachorrinho dela, não comprava ração de qualidade, um mão-de-vaca maldito, ia acabar matando o bichinho de desnutrição. Eu, agora, só compro ração importada pra ele, 280 reais o saco de 25, me dá um puta orgulho.

– Huummm, um cachorrinho... Sim. Um poodle de madame, imagino, desses que comem um saco de ração por mês. É caro!

– Poodle? O Belzebu?! Não me faça rir, cara. Belzebu é um São Bernardo. Come um saco em 5 dias, você precisa ver o apetite do bichinho, é um colosso. Eu me amarro naquele cachorro.

– Deus do céu! Seis sacos por mês?!!

–  Fora a carne, é claro. O Buzinho adora uma alcatra, você precisa ver.

– Tá, tá, nem vou perguntar quantos quilos ele come por dia. Vamos falar de outra coisa. A Ana Cláudia não traiu o Jonas também?

– Traiu comigo, cara. Comigo. Como ela diz sempre: foi só então que Deus teve piedade dela, que ela encontrou o verdadeiro amor pela primeira vez na vida. Tá entendendo, cara: pela primeira vez na vida! Essa menina é supersensível, sofreu demais nas mãos de um monte de ordinários que só enganaram sua boa fé.

– Sim, sei. Boa fé... E ela trabalha em que?

– Não trabalha fora, os caras nunca deixaram. Também, uma gata daquelas, os caras morriam de ciúme dela, é lógico.

– E você?

– Ora, eu não sou ciumento, você sabe. Só acho que não é justo ela se expor a esse trânsito maluco e perigoso todo dia, a ter que ouvir as cantadas na rua, o assédio no trabalho. E trabalhar no quë? Ela não tem profissão. Nunca pôde trabalhar, a coitadinha.

–E agora, com você...

– Agora ela não precisa, é diferente. Eu ganho bem pra burro, você sabe. Muito mais do que aquele babaca do Jonas, lá da Concessionária.

– Tá certo – concordou Alfredo. E pensou: melhor não dizer mais nada, o pior cego é o que não quer ver. Ficou em silêncio o tempo suficiente para Luiz Felipe se lembrar do que estava indo fazer.

– Cara, no papo com você acabei esquecendo que tenho que buscar a Alzirinha agora.

– Uma amiga? Parente?

Luiz Felipe riu:

– Você não dá uma dentro hoje, cara. Não, a Alzirinha é um presente, uma puta surpresa que eu vou levar pro meu amor. Ela vai se derreter toda. E o Buzinho também.

– O Belzebu? Ora, por quê?

– A Alzirinha é uma fêmea de São Bernardo, Alfredo. Comprei hoje. Vou pegar a bichinha no Pet Shop, mandei dar banho, perfumar, dar um trato de luxo, sabe como é. A Aninha merece. Cara, ela vai chorar como criança pequena no meu colo. Depois dá um puta tesão nela e você não pode imaginar o que ela faz numa cama quando fica agradecida assim.

– Não posso... 

Alfredo imaginou.

– Bem, preciso ir, cara. Bye, bye. Vê se você desencalha e arranja uma gata assim como a minha. Pena que Ana Cláudia como essa só exista uma.

– Tchau – Alfredo acenou com a mão quando Luiz Felipe deu partida na Pajero.

Depois caminhou lentamente até o estacionamento, pagou a conta, entrou no Mercedes e tirou o bilhetinho do bolso. Aquela mulher estupidamente linda tinha encostado o peito no braço dele no clube e colocado o bilhete no seu bolso. Leu mais uma vez:

“Menino,
Que surra você deu nele no tênis hoje. Também, você é muito mais forte e mais musculoso que ele. Cada pernão! A mulherada deve ficar louca de tesão por você. Quem não fica, né? Me liga de tarde, quero te falar uma coisa. A propósito, você gosta de cachorro?  Euzinha”

Alfredo sacudiu a cabeça. A visão daquela gata era de enlouquecer qualquer um. O convite, então... De cachorro ele até gostava, mas de Husky siberiano. 

Mas ele gostava muito, muito mais da sua carteira e da sua conta bancária. Aquela vigarista era uma alpinista social, na certa estava considerando dar mais um salto quântico em sua carreira, afinal ele era o dono da Concessionária onde o corno do Jonas trabalhava como gerente. Trabalhava. Agora estava na maior depressão, licença médica... Deu a partida enfim, jogou o bilhete fora na lixeira da saída, lembrou do coitado do Luiz Felipe, bom amigo, ruim no tênis:

– É, o pior cego não é o que não quer ver... É o apaixonado!

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O MAL NECESSÁRIO BEM NECESSÁRIO
MILTON MACIEL
(Abaixo a letra da canção e o link para o vídeo 

Foi notável: Nil Moltocaro postou no Facebook a letra de MAL NECESSÁRIO, canção que foi imortalizada na interpretação antológica de Ney Matogrosso e que tive a felicidade de assistir ao vivo em São Paulo. Evidentemente, corri para o Youtube e fui me deliciar outra vez. Aí, é claro, dá vontade de compartilhar com os amigos. Foi quando começaram os problemas.

 Quem era o  autor ou eram os autores da canção? Procurei com “letra” e com “lyrics” e nada. Absolutamente nada! Dezenas de letras completas, abaixo do título apenas “Ney Matogrosso”. Era como se Ney fosse o autor do poema. Nada sobre o compositor. Para maior dos pecados, Cazuza tinha uma outra canção com o mesmo nome.

Foi preciso chegar à DECIMA SÉTIMA busca para encontrar um nome: MAURO KWITKO. Surpreendente, pois esse nome eu o tenho associado a um médico homeopata espiritualista, que escreve livros sobre terapia reencarnacionista. Curioso, fui ao portal do Mauro Kwitko e lá, junto à fotografia de um simpático e vivaz senhor de 65 anos, encontrei, na Biografia, a foto de uma rapaz cabeludo, com seu violão. E a constatação: Sim, era ele o autor de Mal Necessário – Música e Letra!

Só não posso saber ainda como é que essa composição genial chegou a Ney Matogrosso e seus produtores musicais. Mas tenho que dizer que, para todos nós outros, resultou em grande felicidade que isso tivesse acontecido.

Então estou postando aqui o link para a melhor das gravações dessa canção. Aqui a interpretação de Ney chega a um dos pontos mais altos de sua carreira: Roupa, mise-en-scène, coreografia, expressão corporal, expressão facial e... VOZ, é claro, explorando aqui todo o seu inacreditável alcance vocal.

Mas é preciso que se compreenda que uma andorinha só não faz verão. Esta peça é realmente antológica, mas para que ela chegasse a esse ponto, muitas mentes brilhantes e muitos corações sensíveis estiveram envolvidos. A começar pela música e pelo poema geniais do jovem Mauro Kwitko. Sem o qual, nada existiria para ser interpretado e nos emocionar e encantar.

E a seguir pela interpretação fantástica do naipe de músicos que está nesse palco: guitarrista, com seu solo brilhante, tecladista (como pianista, sou suspeito!), baixista, baterista, percussão. Mas por trás deles estão os técnicos de som, os operadores de luz (Ney que o diga, pois ele mesmo funciona como iluminador para shows de outros artistas!).

A imensa maioria das pessoas passa muito rápido pelo portento que é uma criação coletiva desse naipe. Limitam-se a fixar a figura do cantor, a ouvir sua voz. Maravilha, em se tratando deste Ney Matogrosso. Mas é tão pouco, tão pobre! Experimente assistir ao vídeo mais de uma vez, várias vezes. Na primeira, faça como todo mundo. Na segunda, faça um esforço para não ouvir a voz nem não se fixar na imagem do cantor. 

Fixe sua atenção nos outros artistas geniais que também são intérpretes dessa maravilha, sem a qual não sobraria nada além da voz isolada de Ney Matogrosso. Para isso, ou feche os olhos, ou minimize a imagem. E apenas ouça. Mas ouça colocando a alma como receptáculo dos seus tímpanos. Pronto! Esse é o segredo de aproveitar tudo, tudo mesmo, até à ultima gota. Aí você vai perceber que alguém é responsável pelo ARRANJO genial. Quem?

Evidentemente, não há como corrigir a injustiça já feita. O máximo que consegui foi resgatar o nome de Mauro Kwitko e pensar nele com carinho e gratidão. Já aos outros artistas em palco, não consegui fazer justiça mesmo: Quem são eles? De qualquer forma, para eles igualmente minha gratidão e meu carinho. Obrigado, a todos vocês que criaram, junto com Mauro e Ney, este momento alto da música e do espetáculo brasileiros. Valeu, pessoal!

Então eu escrevi:

"Só não posso saber ainda como é que essa composição genial chegou a Ney Matogrosso e seus produtores musicais. Mas tenho que dizer que, para todos nós outros, resultou em grande felicidade que isso tivesse acontecido."

POIS BEM, hoje tenho a satisfação de contar como foi que isso aconteceu. A fonte: o próprio compositor Mauro Kwitko. Tive o prazer de entrar em contato com ele por e-mail, relatando a singela homenagem que este blog lhe havia prestado e aí recebi do Mauro a mensagem postada abaixo.. Prestem atenção na forma paranormal como a composiçào surgiu e fiquem sabendo que quem escolheu o nome foi o próprio Ney MATOGROSSO:

"Milton, obrigado pela citação a minha pessoa, fiquei bem emocionado com seu gesto. Vou te contar como o "Mal Necessário" foi feito:

Era o ano de 1978 e um amigo em comum me levou na casa do Ney para eu mostrar músicas para ele. Tocamos a tarde toda, eu naquela expectativa do Ney se apaixonar por alguma música, sabe como é compositor, né? Bem, ele gostou, foi tudo muito bom, tudo muito bem, voltei para casa (morava com outros músicos no Leblon), e, lá chegando, por sorte, não tinha ninguém em casa, fui para a sala, sentei no chão, peguei o violão, e PARECE QUE SAÍ DO AR... QUANDO DEI POR MIM, HAVIA UMA LETRA ESCRITA; e TOQUEI A MÚSICA, e achei-a linda! Tinha tudo a ver com o Ney daquela época.

Fui até um orelhão, liguei para o Ney, contei o ocorrido, ele pediu para eu voltar a sua casa, mostrar essa música nova. Peguei o ônibus e fui. Lá chegando, comecei a tocar e ele se apaixonou! Pegou um gravador (cassete!) e pediu para começar de novo que ele queria gravar no gravadorzinho. Perguntou o nome? Não tinha ainda... Falei que havia sido feita para ele, o que achava? Ele pensou um momento e disse: Mal Necessário. E foi assim. Ela toca até hoje, 34 anos depois. 

Atualmente, eu recebo Hinos Espirituais do Astral, já são cerca de 250 Hinos, podes escutar um pouquinho no link Cds no meu Portal (www.portalmaurokwitko.com.br). Gravei 2 Cds independentes com eles - Hinos de Paz e Hinos de Amor, e estou gravando outro no Garage Band do meu IMac. Então, Milton, assim é a vida, fazemos coisas, elas vão e vem, passam, ficam, vêm outras, e a vida continua. Abração, Mauro" 

Atualmente, Mauro Ktwiko dá cursos de Psicoterapia Reencarnacionista e Regressão Terapêutica em várias cidades: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília. Informações no seu portal.

MAL NECESSÁRIO
MAURO KWITKO

Sou um homem, sou um bicho, sou uma mulher
Sou as mesas e as cadeiras desse cabaré
Sou o seu amor profundo, sou o seu lugar no mundo

Sou a febre que lhe queima mas você não deixa
Sou a sua voz que grita mas você não aceita
O ouvido que lhe escuta, quando as vozes se ocultam,
Nos bares, na cama, nos lares, na lama.

Sou o novo, sou o antigo, sou o que não tem tempo
O que sempre esteve vivo, mas nem sempre atento
O que nunca lhe fez falta, o que lhe atormenta e mata.

Sou o certo, sou o errado, sou o que divide
O que não tem duas partes, na verdade existe.
Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem
Nos bares, na lama, nos lares, na cama.