sábado, 28 de janeiro de 2017

EM  VOCÊ  SUPÕE-SE  
MILTON MACIEL

Em você
supõe-se
a maciez da alma,
o obtemperar do sonho,
o obliterar do nunca,
o imaginar do antes
e o esbater do belo.

E há o enigma dos olhos,
o indecifrável da intenção,
o sorriso de pétala,
as mãos de nuvens
o flutuar de náiade,
o intangível da leveza...
E o desvanecer.

Em mim...
Esta perplexidade!

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A ARTE E A TÉCNICA DO ROMANCE (Livro)
MILTON MACIEL
Cap. 1 - A FICÇÃO E SEU MERCADO NO BRASIL
3ª. parte: Os 20 livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2016

FIM DA SEGUNDA PARTE: Se você não ficar esperto, seu lindo livro, que estava nas vitrines e mesas no lançamento, às dezenas e na horizontal, um mês depois já virou uma entre mais de 100 mil lombadas de livros espremidas nas prateleiras na vertical. E você... já era!

Portanto, copie e cole esse texto que destaquei em itálico e negrito. Dê um control C para copiar e um control M, para colar diretamente em SUA MENTE! Nunca mais esqueça isto: QUEM VENDE LIVRO É O AUTOR, quando se faz conhecido.

Quando Chico Anísio, Jô Soares ou Chico Buarque lançaram seus primeiros livros, o sucesso e a megavendagem já estavam garantidos. Porque eles eram MUITO conhecidos. Entendido?...

NÃO, NÃO HÁ OUTRO CAMINHO! Você vai ter que ir à luta. Mas vai valer a pena, pode ter certeza.

3ª PARTE: O MERCADO, ONDE TUDO TERMINA, É ONDE TUDO TEM QUE COMEÇAR
Os 20 livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2016, segundo a lista Publish News

Usando o preceito mercadológico acima, eu sempre digo a meus estudantes de escrita, aos aspirantes a escritores, assim como a muitos colegas que já são escritores publicados:

NÃO SE PODE ESCREVER QUALQUER COISA, se o que se quer é ser publicado e lido. A gente tem que saber identificar o que o mercado pode e quer absorver. E isso não quer dizer, de forma alguma, NIVELAR POR BAIXO, como vou explicar mais adiante neste livro.

Quer dizer apenas que você tem que aprender a ser um escritor PUBLICÁVEL. Ou não será, NUNCA, um escritor para o mundo lá fora. Que é o único, fora seu sogro rico, que pode sustentar você e deixá-lo viver somente daquilo que escreve.

Pois bem, para você que espera ser publicado um dia, digo:

NÃO ESPERE! Sendo ainda mais claro: não fique esperando pelos editores, vá à luta você mesmo. E logo!

Sem querer assustá-lo, nem desiludi-lo, é preciso que você saiba que:

I – Em FICÇÃO, as editoras brasileiras preferem lançar traduções de autores estrangeiros. Isso torna extremamente difícil que um autor novo brasileiro tenha fácil chance no mercado convencional. Normalmente, nas listas semanais de mais vendidos no Brasil em FICÇÃO, não há nenhum autor brasileiro, incluindo-se aí os nomes já consagrados. É zero por cento mesmo! Nas anuais alguns brasileiros acabam aparecendo como exceção.

Para lhe dar uma noção mais exata, vou citar os 20 livros de FICÇÃO mais vendidos no Brasil em 2016. Sabe quantos brasileiros? QUATRO. Mas quais quatro? Augusto Cury (5º - O homem mais inteligente do mundo) Paulo Coelho (16º - A espiã), Clarice Lispector (11º - Todos os contos), e Frederico Elboni (18º - Só a gente sabe o que sente). Elboni, raridade total na lista, está recém no seu terceiro livro. É preciso esclarecer que a posição de Paulo Coelho deve-se unicamente ao fato de que seu livro só foi distribuído a partir do início do 2º semestre.

Total das vendas dos 4 brasileiros:    143 387 livros (10,1 % do total)
Total dos 20 mais vendidos:          1 392 243 livros
Venda total de Jojo Moyes:              624 560 livros (44,9 % do total, praticamente a METADE!)


Vendas de Jojo Moyes:
Como eu era antes de você                352 330
Depois de você                                  228 073 (mais que todos os brasileiros juntos!)
A última carta de amor                        44 157
TOTAL EM 2016                              624 560

Em resumo, nada como um bom filme para alavancar as vendas de um livro bem escrito em cima de uma BOA IDEIA. Vide blockbusters das séries Harry Potter, Senhor dos Anéis e Crepúsculo


II – Em NÃO-FICÇÃO, há mais espaço para autores brasileiros, que às vezes chegam a ocupar até 60% de uma lista mensal de mais vendidos. Mas só vou falar sobre Não-Ficção em outro capítulo.

III – As listas mostram uma tendência concreta e revelam claramente aquilo que o leitor deseja e compra. E, assim sendo, o que as editoras lhes oferecem. Ora, estas aprenderam a jogar o jogo e só botam o seu dinheiro em cima de livros já consagrados lá fora.

IV – A BOA literatura de FICÇÃO brasileira ENCALHA! Sim, são lamentavelmente muito poucos os sucessos editoriais, mormente de autores novos. E mesmo dos autores já conhecidos. Esta é uma das distorções que, com o tempo, só E-BOOK poderá corrigir. Mas agora ainda não é a hora de falar de e-books.

Vou fechar este capítulo com uma afirmação que pode lhe soar estranha:

1 – O mar não está para peixe
2 – Peixe é o autor brasileiro novo
3 – Mesmo assim, esse peixe pode dar a volta por cima
4 – Só que esse peixe precisa aprender a sair do mar e nadar no rio
5 – O mar é o mercado tradicional do livro impresso: editora, distribuidora, livraria
6 – O rio é o mercado alternativo de livros impressos sob demanda e de e-books
8 – O mar está secando devagarinho
9 – O rio está crescendo vertiginosamente
10 – Um peixe que começa a nadar no rio e se sobressai, acaba podendo nadar de braçada no mar também; vira peixão, baleia, cachalote. Vira o que chamamos, nos EUA, onde ele já é uma figura estabelecida no mercado, de autor HÍBRIDO – o que tanto se autopublica quanto se deixa publicar por editoras do circuito tradicional. E estas vêm atrás dele, porque ele conseguiu acontecer no mundo da autopublicação e se fez um nome!

Por ora ficamos por aqui. Mas quero deixar uma sugestão de algo que os leitores adoram fazer: ir a uma livraria.

Os mais obesos, os muito preguiçosos e os que realmente não tiverem tempo, podem fazer a pesquisa por Internet. Só que vão ter uma visão bem distorcida.  

É na livraria física que você vai poder ver com clareza a realidade, pois é só ali que existe o problema de limitação de espaço físico, de áreas promocionais pelas quais a livraria cobra das editoras, de vitrines, etc.

Olhe só nos balcões onde os livros estão generosamente expostos na horizontal e nos suportes individuais. E olhe nas vitrines e nos expositores. E, dos livros em destaque em lugar nobre, anotem quantos são de ficção e quantos de não-ficção.  Evite as concentrações óbvias de livros de negócios e de culinária, assim como as dos infantis e infantojuvenis. E aí veja quantos autores(as) brasileiros(as) de FICÇÃO vão encontrar. E, dentre eles, quantos lhe são desconhecidos ou conhecidos há muito pouco tempo – porque esses são os NOVOS. Bom trabalho!

Depois disso, voltaremos ao assunto da “AUTO-PUBLICAÇÃO e suas inúmeras vantagens”.


sábado, 21 de janeiro de 2017

SÃO  SEBASTIÃO  DO 20 DE JANEIRO    
MILTON  MACIEL   

Saúde, São Sebastião.
Do meu Rio de Janeiro,
Que vida dura, mermão,
Tu se ferrô por inteiro!
E, nas mão duma cambada,
Morreu cheio de frechada.

Saúde pra tu, meu santinho,
Que eu te brindo, camarada,
Com a pinga deste copinho,
Que afanei duma namorada.
(O nome dela eu nem lembro,
Foi uma das de... Setembro).

Não faça cara de espanto
Porque o copo não tá cheio.
Acontece que o otro meio
Eu derramei pro otro santo:
O de cabeça, sacumé?
(E eu nem sei quem ele é!)

Não que eu tenha muita fé,
Mas eu que não vô arriscá.
O santo é de candomblé,
Vai que quera me ferrá!
E, por um pingo de cachaça,
Eu não quero mais desgraça.

Fé mesmo eu tenho é em tu,
Meu santo São Sebastião,
Trouxe água do Rio Guandu
E pinga do bar do Alemão.
Vim a pé lá de Bangu,
Prá nossa negociação.

Eu te ofereço os bagulho
E essa minha caminhada,
Que me deu um puta orgulho:
Seis quilômetro de esticada!
Sacrifício pra tu, meu santo,
Pra tu tirá meus quebranto.

São Sebastião das frechada,
Tu é o santo dos como eu,
Que vivo levando porrada.
Minha fé eu tu só cresceu.
É que tu é um santo ferrado,
Como este seu camarado.

Só nas mão dos meus patrão
Eu como cada cortado!
Mas tem uma coisa, mermão,
Não nasci pra sê empregado!
E nem patrão! Pra completá:
Não nasci pra trabalhá.

Agora, tocá meu pinho
E entorná minha cachaça,
Enroscado no corpinho
De uma bela cabrocha,
De uma mulata sestrosa:
Isso é que é vida gostosa!

Olha o que eu vim suplicá
No dia da tua festa:
Faz a Jurema voltá,
Aquela cabrocha honesta.
Ela diz que se cansô
E onte me abandonô!

Como a coisa vai ficá
Lá no meu barraco, agora,
Se a Jurema for embora?
Quem é que vai trabalhá?
Quem vai mantê, garantida,
Pinga, cerveja e comida?

Que eu tenho otras cabrocha
Disso se queixa a ingrata.
Ora, pior se eu fosse brocha,
Nem pra ela, nem pras gata!
Ora, pra ela tem sobrando,
Do que que está reclamando?

Por isso, meu santo ferrado,
No instante da minha aflição,
Ajude o seu camarado
E aceite a negociação:
Entenda a minha revolta
E traga a Jurema de volta!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

E-BOOK – UM MERGULHO NO TÚNEL DO TEMPO
MILTON MACIEL

Hoje bateu saudosismo. Peguei uma das minhas ‘velhas’ revistas para escritor, dentre as assinadas por mim na Flórida desde 2007 (The Writer, junho de 2009) e "viajei". Mas meu Túnel do Tempo tem apenas 7 anos. E é tão engraçado ver o que diz ali na revista, na página 8, quando o autor comemora: “O e-book finalmente dá seu grande passo”. E justifica: “Depois de anos de problemas técnicos e vendas anêmicas, editoras como a HarperColins, a Random House e a Simon & Schuster relataram que as vendas triplicaram em 2008 e atingem agora 5% do mercado total de livros.”

E o artigo mostra que “explodiu também a venda de dispositivos leitores de e-books, com o Kindle da Amazon e o E-reader da Sony, que custam entre 330 e 400 dólares.”

Pois é, só 7 anos e pouco!... O Kindle tinha sido lançado pra valer só um ano e meio antes, no início de 2007.

Como publiquei aqui em 9/1/2017, em “2017: 1O ANOS DE KINDLE”, agora, a estatística é bem diferente. A participação do e-book no mercado total passou dos 5% de 2008 para 25% em 2016 – oito anos apenas. Mas o que me fez rir foi a mudança de preço do leitor Kindle: o dispositivo mais básico da Amazon que custava 330 dólares em 2008 hoje é vendido a 37 dólares no site da Amazon. 

Lógico, uma vez que o software Kindle chegou aos smartphones, tablets e computadores, não há mais campo para e-readers caros. Na verdade, quase já não sobra mais campo é para os e-readers simplesmente.

Eu mesmo nunca me interessei em comprar um deles, mesmo quando o Kindle básico caiu abaixo de 50 dólares.  Prefiro comprar, descarregar e ler meus e-books e revistas digitais usando só o meu Samsung Galaxy. Assim como o smartphone assassinou as câmeras digitais portáteis, da mesma forma ele passou uma rasteira cruel nos e-readers em geral.

Lógico: você TEM que ter um smartphone, dispositivo que chega a lhe servir às vezes até como telefone (puxa, é mesmo, quem diria, não?!). E já que você já investiu nele e ele está ali mesmo no seu bolso, em qualquer lugar que você vá, trabalho, condução, escola, balada ou banheiro, por que gastar mais dinheiro comprando um e-reader dedicado, um trambolhinho menos prático de carregar com você?


O smartphone vem consolidando sua tendência ao gigantismo e, com sua tela maior, trucidou covardemente os pequenos tablets de 6 polegadas. E, junto com eles, dançou o Kindle básico. Então a Amazon lançou os tablets da série Kindle Fire, maiores, com tela colorida e muito mais caros. Que continuaram apanhando do Iphone e do Galaxy, lógico. Mas é claro que a Amazon não está nem aí, porque o grande negócio dela é vender o e-book, não o dispositivo e-reader.

Pois é, a revolução está em andamento. E logo, logo, vem aí a "Geração E", não esqueça.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A ARTE E A TÉCNICA DO ROMANCE (LIVRO)
MILTON MACIEL
1 - A FICÇÃO E SEU MERCADO NO BRASIL
2ª. parte: a PUBLICAÇÃO

FIM DA 1ª. PARTE: Mesmo que você venha a produzir apenas duas páginas por dia, no fim de um ano você terá mais de 700 páginas prontas para revisão e editoração. Isso, na prática, pode dar três livros de 240 páginas ou dois livros de 360 páginas, ou 1 livrão de 720 páginas por ano! Não é pouco. Em 10 anos você terá 30 livros padrão, nada mau.
E, convenhamos, escrever só DUAS páginas por dia é meta de preguiçoso contumaz, caramba. Significa trabalhar somente MEIA hora por dia no seu livro. Mas veja, mesmo produzindo assim, como a proverbial tartaruga, você pode chegar ao fim de um ano com até três livros publicados – ou aguardando publicação. Logo, falta de tempo para escrever... Hum, essa não vai colar!
2ª. PARTE - Ah, a PUBLICAÇÃO!
É hora de falarmos então, honestamente também, sobre a tal publicação.
Ora, um artista produz para ter prazer, para dar esse supremo deleite a si mesmo. Mas um artista tem também uma coisa chamada EGO. E o tal ego é aquele que não se contenta somente com o grande prazer de criar. Ele é danado, o baixinho, adora mostrar o que produz, porque está atrás de um outro enorme prazer: o de ser apreciado. Mais: se possível de ser admirado, aplaudido, ser considerado melhor que os outros, endeusado, adorado, imortalizado, eternizado. O dístico do Ego é: “EU sou, no mínimo, o máximo!”
É, o tal baixinho é danado mesmo. Ele não só clama o tempo todo por aceitação e elogios; ele ainda por cima não gosta de ver o sucesso dos outros. O Ego, como bom egoísta que é, é um terrível ciumento. Morre de ciúme profissional dos outros. Especialmente, é claro, dos seus colegas de profissão. Uma coisa que a gente vai comentar bem mais adiante, quando falarmos de organismos de classe dos escritores no mundo todo. É igual aqui no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, no Japão ou em Burkina Faso. Ou entre os cantadores de cordel do Nordeste. É humano, simplesmente.
Em outras palavras: o escritor escreve pela arte, sim. Pero no mucho... Porque ele quer ser é... publicado! E fazer sucesso!
Ah – diz você – mas então nosso problema é duplo: quer dizer que não basta aprender a escrever bem. Ainda é preciso aprender o que fazer para ser publicado e vender bem!
Isso mesmo! Agora você disse tudo.
Escrever E publicar. To write AND to publish. That’s the question. Pode segurar a caveira na mão e dizer isso em voz bem alta, como um moderno Hamlet das letras.
Dizendo de outro modo: Não me agrada nem um pouco ensinar você a escrever, sem ensinar você a publicar. Escrever E publicar, eis a questão.
Sim, porque o seu eguinho, assim como o meu eguinho, não vai se contentar com a criação de sua obra-prima para deixá-la depois, bela e faceira, na memória ROM do seu computador; ou naquele belo manuscrito que jaz, quiçá per omnia secula seculorum, na terceira gaveta da cômoda do sótão da casa de mamãe.
Seu eguinho quer publicação imediata, crítica favorável, sucesso de vendas, fama correspondente e muito dim-dim como resultado final. Nada mais natural: você e eu somos humanos, caramba!
Vamos então a considerações muito concretas sobre o publicar, antes de começar a aprender a escrever (ou reescrever) para tornar mais fácil o publicar.
Sem o conhecimento desta realidade sobre o mercado, você pode se deixar iludir e se tornar vítima de uma paralisia futura em sua produção, por mero desencanto. Compete a mim, que quase fui vítima disso, impedir que você venha a sê-lo.
Para o seu futuro como escritor, o que equivale a ser um bom fingidor e um bom vendedor de livros simultaneamente, podemos dizer:
Escritor, na prática, não será aquele que ESCREVE livros, mas sim aquele VENDE livros. Ou seja, aquele que consegue que seus livros sejam publicados e vendidos amplamente. Nos Estados Unidos nós formamos o hábito de dar a estes o nome de author e ao outro, o genérico, o nome de writer.
Se você não consegue a venda de seus livros, você será escritor na teoria, mas não na prática. E seu material, que pode ser de primeiríssima qualidade, vai ficar esquecido – ou na sua gaveta, ou em dezenas de caixas cheias de livros encalhados na sua garagem, depois que as livrarias os devolverem. De qualquer forma, você não será conhecido como escritor.
Você vai ter que andar com um ou mais livros debaixo do braço para provar que é escritor, mostrando-o às pessoas. Quando você declara, peito empombado, que é escritor, a outra pessoa lhe pergunta logo o seu nome. E quando o ouve, dá aquele sorrisinho amarelo, dizendo falsamente:
– Ah, João dos Prazeres Honestos, sei, sim!
Sabe coisa nenhuma! Uma, porque você não é conhecido. Outra, porque a maioria dos interlocutores não estará segura – a maioria dos interlocutores NÃO LÊ! Não conhece autores pelo nome. Talvez seja melhor você dizer que seu nome é Gonçalves Dias ou Castro Alves, numa dessas a pessoa se lembra de algum “velsinho” do tempo da escola, tipo o “Batatinha quando nasce”, de Gonzalo Diaz de Arrumbe y Cumparsita, e não sabe que eles já morreram:
– Vejam, gente, quem está se hospedando no nosso hotel: o Seu Castro Alves em pessoa, aquele das Espumas Voantes e do Barco Negreiro, quanta honra!
Bem, se não tem Navio vai barco, se não tem Flutuantes, vai voantes mesmo.
Mas você vai persistir, vai aprender a fazer a coisa acontecer, vai publicar e se fazer conhecer e, quando você disser quem é, o cara do hotel exclamará:
– Puxa, o João dos Prazeres Honestos em pessoa! Claro que eu já li, duas vezes por sinal, o seu “Manual da Cafetina Moderna”! É demais, até minha mãe já se convenceu a entrar no ramo.
Bingo, sucesso! O pessoal anda lendo você, João. Agora é só ficar de olho bem aberto para os acertos que a editora tem que fazer com você, OK?
Eu estou, de propósito, pintando o quadro com suas cores reais, a prova de Pollyanas. Estou justamente tratando de lhe mostrar que o problema que existe é bem maior do que você imaginava. O que é ótimo, porque, se você não sabe que tem um problema, vai continuar vítima dele sem procurar solução. Nesse caso sempre sobra o azar ou a indefectível culpa dos outros para livrar sua pessoinha inocente.
Mas você não é um fraco, que vai cair nessa saída maníaca. Você vai aprender como é que funciona o inimigo e se adestrar para jogar dentro das regras do jogo e derrotá-lo. E aí nós outros aqui, seus fãs, vamos dar as boas-vindas a você, o bem sucedido escritor profissional que vende livros, o inconteste autor, o grande João dos Prazeres Honestos.
Agora aproveito para lhe apresentar uma grande verdade do mercado, que aprendi na prática, ao longo de muitos anos de atividade lá fora e aqui:
Livraria não vende livro. Editora não vende livro. Quem vende livro é o autor.
LIVRARIA não vende livro. É o depósito físico ou virtual ao qual o LEITOR se dirige para COMPRAR um certo e determinado livro.
EDITORA não vende livro. Apenas manda fabricá-lo e o faz chegar à livraria.
QUEM VENDE LIVRO É O AUTOR!
Exatamente isso que você leu! Quem vende livro é o AUTOR. Se você não der as caras, não se tornar conhecido, você não vai vender nada e vai sumir do mercado, não vai ser ESCRITOR PROFISSIONAL. A editora vai lhe dar um empurrãozinho, vai investir um pouco em mídia, pagar para a livraria colocar seus livros num lugar de destaque e depois... bye, bye, baby; bye, bye!
Se você não ficar esperto, seu lindo livro que estava nas vitrinese mesas no lançamento, às dezenas e na horizontal, um mês depois já virou uma entre mais de 100 mil lombadas de livros espremidas nas prateleiras na vertical. E você... já era!
Portanto, copie e cole esse texto que destaquei em itálico e negrito. Dê um control C para copiar e um control M, para colar diretamente em SUA MENTE! Nunca mais esqueça isto: QUEM VENDE LIVRO É AUTOR, quando se faz conhecido.
Quando Chico Anísio, Jô Soares ou Chico Buarque lançaram seu primeiros livros, o sucesso e a mega-vendagem já estavam garantidos. Porque eles eram MUITO conhecidos. Entendido?...
NÃO, NÃO HÁ OUTRO CAMINHO! Você vai ter que ir à luta. Mas vai valer a pena, pode ter certeza.
CONTINUA...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A  ARTE E A TÉCNICA DO ROMANCE (LIVRO)
MILTON MACIEL
1 – A FICÇÃO E SEU MERCADO NO BRASIL (1a. parte)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm. (Autopsicografia – Fernando Pessoa)

Mestre Pessoa diz tudo. O poeta, que é um ficcionista tanto como o contista e o romancista, é um fingidor. Na verdade, devemos dizer que é um bom... mentiroso.

Eu e você, ao escrever ficção, vamos mentir muito para o nosso leitor. Vamos inventar uma história que não acontece, cheia de gente que não existe. Mentimos descaradamente! Mas esse é um jogo de cartas marcadas: a gente finge, mente, e o leitor acredita. Ri conosco, chora conosco, fica furioso, ama e odeia personagens. Se não somos bem sucedidos nas nossas mentiras, então ele odeia os nossos livros e nos odeia a ambos.

Mas, de qualquer forma, o que nós fazemos com nossas mentiras cuidadosamente arquitetadas é provocar-lhe emoções. É para tê-las que ele compra nossos livros. A vida dele não se completa sem isso. Ele precisa disso. Isso é ARTE!

Arte é o que fazemos ao escrever ficção. Tiramos da nossa memória, dos nossos conhecimentos conscientes, das nossas pesquisas, da nossa própria vida, da nossa experiência, das nossas relações, do nosso inconsciente – e até do inconsciente coletivo – as ideias e as emoções que transmitimos à mente e à sensibilidade de quem nos lê. Fingimos tão completamente que as pessoas que lêem o que escrevemos passam a sentir a dor – ou a alegria – que elas não tinham até então. Simples assim.

Simples de conceituar. Não tão simples de construir, isto é, saber mentir bem. Ou seja, não basta saber mentir, é preciso saber mentir muito bem! Senão o leitor não sente as emoções que pagou para sentir. E nunca mais compra um livro seu ou meu.

Bem vindo, portanto, ao reino da fantasia, do fingimento, da mentira piedosa ou maldosa: o reino da Ficção.

FALANDO HONESTAMENTE

E já que vamos nos aventurar no reino do fingimento e da mentira, a primeira coisa que vamos fazer é sermos absoluta-mente honestos. Com você, explique-se, não com o pobre do leitor. Esse a gente vai seguir enganando, que é para isso que ele nos paga.

É a honestidade que permeia este livro e os seguintes da série COMO ESCREVER FICÇÃO que me obriga a ser direto e franco com você. A começar por chamá-lo de mentiroso. E a continuar por elogiar em você justamente a sua capacidade de mentir bem. Você vai ter que se tornar um ótimo mentiroso, um esplêndido fingidor, para poder escrever boa ficção.

Só que, antes de estimulá-lo a entrar neste oceano encoberto de brumas da vida de escritor, eu quero lhe falar umas poucas verdades que aprendi na prática de fingidor, editor e professor de escrita e marketing de livros. Vamos começar bem pelo começo e não creia que o que vem a seguir, já no próximo parágrafo, está fora de ordem. Não, ocupa o exato e devido primeiro lugar na ordem de prioridades.

POR QUE SER ESCRITOR?

O que você, o que eu, o que Stephen King, o que Machado de Assis, o que Paulo Coelho querem ou quiseram ao se tornarem escritores profissionais?

Eu diria que, antes de mais nada e acima de tudo, o que queremos é produzir arte. Falei de propósito de King e de Coelho, porque eles são grandes sucessos de bilheteria, faturam milhões de dólares anuais. São, ao mesmo tempo, exceções absolutas.

Nosso mais famoso e competente escritor, o velho e ótimo Machado, não conseguiu enriquecer com seus muitíssimos livros. Livros tão bons que são sucessos até o dia de hoje, mais de 100 anos depois de sua morte. E o mesmo acontece com a ampla maioria dos ficcionistas mais talentosos deste nosso país. País ainda de poucas letras, onde o dinheiro para as letras é sempre dos mais escassos – especialmente quando as letras foram aplicadas no papel ou na telinha através de autores brasileiros.

O que quero dizer, com toda a crueza é o seguinte: se você quer escrever para ficar famoso e rico, pode começar a contar com mais dificuldades do que deve estar esperando. O famoso até que é possível: como vamos ver bem mais à frente, é muito mais uma questão de investir em uma boa assessoria de imprensa e não tem muito a ver com a qualidade do seu trabalho.

Já o ficar rico a la Paulo Coelho... Bem, não vou dizer com ru-
deza cruel para você tirar o seu cavalo da chuva. Acontece. Às vezes. Com um em cada 10 mil autores, algo assim. Portanto, se você quer escrever para ficar rico rapidamente, recomendo-lhe que o faça tendo ao lado do teclado ou da caneta alguns volantes da Mega Sena. suas chances podem ser maiores com a Caixa Econômica Federal.

Então, sem deixar de lado a visão otimista que, de vez em quando, surge um novo Paulo Coelho milionário no Brasil – e esse pode ser exatamente você! – vamos considerar o que sobra de possibilidades.

Eu afirmei categoricamente que nós escrevemos para fazer arte. Creio que isso é fundamental para que a gente possa ser bom ficcionista.

Escrevo por puro prazer. Por deleite. E por necessidade. Necessidade emocional! Escrevo exatamente da mesma forma como toco meu Korg ou meu Casio, teclados com o quais fiz as pazes com a música em minha vida e que estão aqui formando um ângulo reto com a mesa em que dois notebooks e um monitor enorme mostram as palavras que estou digitando. Basta o girar da minha poltrona e deixo de estar de frente para dois teclados de computador para ficar de frente para dois teclados de sintetizador musical.

Escrevo como toco: por necessidade emocional. Qualquer pessoa que toque um instrumento sabe o que estou dizendo. Como tão bem expressou Caetano, na letra de sua “Tigresa” (era a Sonia Braga que ele se referia): “Como é bom poder tocar um instrumento”.  Stephen King toca guitarra!

Ora, o instrumento do escritor moderno também é um teclado, embora, em casos hoje bem mais raros, ainda possa ser uma caneta ou um lápis. Mas, seja ele qual for, é o nosso instrumento, através do qual comunicamos a emoção que estamos sentindo.  Por isso tudo que escrevi até agora é que eu recomendo:

Se você está pronto pra escrever pelo prazer de escrever, para
fazer do teclado do computador ou da caneta o seu instrumento musical, você está pronto para ousar ser um escritor.

Assim como no piano ou na flauta, só precisamos aprender COMO SE TOCA o instrumento. E isso é perfeitamente possível de se aprender. Leva ANOS, é bem verdade. Muitos, se você só faz exercícios e toca de vez em quando. Menos, se você toca todo santo dia por paixão, horas a fio, e aprende um monte de músicas novas por puro prazer, puro deleite.

Para se tornar um bom escritor, você tem que fazer exatamente a mesma coisa: tocar o seu teclado ou caneta todo santo dia, horas a fio, por puro deleite, por puro prazer. Então escrever não cansa, não satura, não desanima. Pelo contrário: entusiasma, anima, você tem que se obrigar a parar porque é hora de comer, porque é hora de dormir, porque é hora de ir trabalhar noutro lugar, se tal ainda for o seu caso.

Eu me imponho uma rotina diária de escrever entre 10 e 20 páginas de livro por dia. É muito fácil quando escrevo ficção, um tanto mais trabalhoso quando escrevo não-ficção. Mas é perfeitamente exequível. Faço isso para mim e faço-o para terceiros, pois sou muito ativo também como GHOST WRITER, o escritor fantasma, que escreve livros em que outros aparecem como autores e ele, como bom fantasminha, desaparece na hora da publicação

Se você escreve 10 páginas de livro por dia, no fim de 20 dias você já ultrapassou o necessário para publicar um livro padrão de 200 páginas. Se escrever todos os dias (como eu faço), então terá 300 páginas ao fim de um único mês. Essa é parte mais fácil e mais rápida. Depois vem a fase mais importante e mais crucial, a da REVISÃO e reescrita, que pode lhe tomar mais de um mês para ficar bem feita.

Contudo, suponhamos que você não possa dedicar tanto tempo à sua escrita. Que você só possa dispor de uma hora por dia de semana e quatro horas no fim-de-semana. Uma página de livro corresponde em média a 1500 caracteres com espaços (ou 1500 toques). Em ficção, quando o nosso problema não é o que escrever, mas como conseguir escrever tão rápido aquilo que nos atropela os dedos a partir da mente e da imaginação, o tempo para digitar esses 1500 toques é de aproximadamente 10 a 14 minutos. O que pode corresponder a quatro páginas por hora, pelo menos.

Nesse ritmo, para produzir 10 páginas no dia precisa-se de duas horas e meia de trabalho concentrado. Horas que são também de prazer, horas em que você esta tocando seu instrumento e se deleitando com o som e a harmonia do que escreve.

E isso que eu tenho um sério defeito: nunca aprendi a digitar num teclado sem olhar para as teclas. E tenho estranhos automatismos, que me levam a repetir sempre os mesmos erros. Por isso detesto os advérbios terminados em mente, porque quase sempre eu digito metne: escrevo erroenametne erroneamente. Imediatamtne o corretor do Word sublinha a palavra esquisita em vermelho e eu vou ali e corrijo, bufando e me xingando por não ser capaz de parar um mês para aprender a digitar sem olhar o teclado, o que poderia talvez quase duplicar minha produção. Isso já tem pra lá de vinte anos!

A vantagem de escrever com o Word é que ele, além de ter um razoável corretor de textos, que serve para alertar você de barbaridades como essas e outras mais (geralmetne digito proque em lugar de porque, Apulo em lugar de Paulo), permite que você faça uma coisa maravilhosa: você já escreve seu texto dentro do formato final do livro que está criando. Sabe quando cada página está terminando, quando a seguinte está começando, quando está na hora de terminar um capítulo. E até quando é hora de fazer uma pausa para descansar, andar uns passos, sacudir o esqueleto, tomar um cafezinho ou coisas assim (não recomendo cerveja nessas horas), sem interromper uma linha de pensamento importante.

Mesmo que você venha a produzir apenas duas páginas por dia,
no fim de um ano você terá mais de 700 páginas prontas para revisão e editoração. Isso, na prática, pode dar três livros de 240 páginas ou dois livros de 360 páginas, ou 1 livrão de 720 páginas por ano! Não é pouco. Em 10 anos você terá 30 livros padrão, nada mau.

E, convenhamos, escrever só DUAS páginas por dia é meta de preguiçoso contumaz, caramba. Significa trabalhar somente MEIA hora por dia no seu livro. Mas veja, mesmo produzindo assim, como a proverbial tartaruga, você pode chegar ao fim de um ano com até três livros publicados – ou aguardando publicação. Logo, falta de tempo para escrever não vai colar!

Continua: Ah, a publicação !

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

2017: 10 ANOS DE KINDLE
MILTON MACIEL
Vêm aí a “Geração E”, o “E-book de 3ª Geração” e os “Dispositivos de 4ª Geração”


Há exatos 10 anos – apenas 10 anos! – 100% do mercado livreiro era alimentado exclusivamente pelos livros impressos. Os editores decidiam quais autores iriam publicar e distribuir às livrarias. Estas, face ao preço elevado de manutenção de seus espaços físicos, também contribuíam para que o número total de autores com acesso ao mercado fosse bastante limitado.

Aqueles que conseguissem altas vendagens iniciais conseguiriam ter novos títulos publicados pelas editoras. Os autores de menor sucesso inicial geralmente morriam na praia. Sua primeira publicação poderia muito bem ser a última.

Como a alta venda inicial não tem normalmente muito a ver com qualidade da obra, mas com a qualidade da PROMOÇÃO que a obra recebe e com um eventual grau de celebridade de que o autor já desfrute, essa cadeia mercadológica condenou à morte a carreira de centenas de milhares de autores novos, empurrando para a mesma vala comum os medíocres, os bons e os extraordinários. Incluindo-se aí, também – e tristemente – muitos autores já conhecidos e até consagrados literariamente, mas bons demais para serem sucessos de venda.

Não se pode dizer que isso é culpa dos editores, distribuidores e livreiros. Business is business. Produzir, distribuir, estocar e vender livros é um negócio, não um sacerdócio.

Exatamente por isso as grandes editoras no Brasil (digo no e não do, porque uma grande parte delas hoje é estrangeira) optaram pela publicação de grandes sucessos estrangeiros. Isso é ainda mais gritante na área do romance, na qual a quase totalidade dos títulos colocados pelas editoras à disposição dos leitores é maciçamente de autores norteamericanos.

Contudo, se pensarmos em termos mundiais, e não apenas nacionais, uma revolução começou em 2007, com a entrada em operação do Kindle da Amazon, o primeiro dispositivo de leitura de livros, jornais e revistas eletrônicos. A plataforma foi imediatamente estendida aos computadores pessoais, com o Kindle for PC, por exemplo. E tudo começou a mudar.

O mercado enriqueceu-se com a entrada da Apple e da Samsung, do Nook, do Kobo. E o grande salto quântico se deu quando o livro eletrônico chegou finalmente ao telefone celular e ao tablet.

Eu, por exemplo, tenho hoje no meu Samsung Galaxy mais de 100 livros só no Kindle. O preço médio que tenho pago por eles é 2,30 dólares, na Amazon dos EUA. Uns 30% deles foram baixados totalmente de graça. Faço parte de portais que disponibilizam dezenas de e-livros totalmente gratuitos todos os dias, muito mais do se pode ler. Posso acessá-los instantaneamente em meus dois celulares e em meus dois computadores de trabalho. A compra me toma poucos segundos, o download cerca de um minuto e mais outro tanto para abrir o arquivo (só na primeira vez), no Kindle de qualquer um desses dispositivos.

Ou seja, entre querer o livro e começar a lê-lo levo menos de três minutos, sempre pagando muito menos do que pelo livro físico (comprando via EUA; no Brasil, lamentavelmente, o e-book pode ser até mais caro que o livro físico, por razões que vou explorar em outro artigo).

Esperar, para mim, deixou de ser um problema. Não existe melhor companheiro na fila do banco ou da lotérica do que o seu celular carregado de livros. Que se abrem, cada um deles, exatamente onde você parou da última vez! Também notei que aqui em casa, depois que o pessoal passou a usar o celular carregado de e-books, aquela enorme pilha de livros e revistas no banheiro praticamente desapareceu.

Até mesmo na plataforma Kindle, você tem dias em que determinados livros são oferecidos gratuitamente, como técnica promocional para tornar o autor conhecido. Também se pode baixar amostras de livros, com vários capítulos. E pode-se ler milhares de livros quase de graça, pagando 10 dólares por mês e tendo acesso ao Kindle Unlimited. Funciona como um empréstimo de biblioteca, você pode ficar com até 10 livros no seu Kindle pessoal (na nuvem, na verdade). Se quiser baixar mais um, você tem que devolver um dos outros 10, simples assim. Tudo feito instantaneamente, ao simples digitar de seu teclado no computador ou no celular.

Se você pode ler 10 livros por mês, então paga 1 dólar por livro na prática. Há livros de não-ficção e livros técnicos em que me interessa apenas um determinado trecho ou técnica, de forma que leio e estudo só aquilo que me interessa e devolvo o livro em seguida, sabendo que eu posso baixá-lo de novo se precisar dele outra vez.

Falo isso tudo para mostrar a grande revolução que o e-book trouxe para o mundo do livro. Hoje, em média, 25% do mercado livreiro total é constituído por e-books. E, no campo do romance, esse percentual chega a atingir 40% em alguns meses. Contra zero por cento dez anos atrás!

O advento do e-book, com seu custo de produção, distribuição e estocagem muito próximo de zero, possibilitou um outro tipo de revolução: a ascensão do AUTOR INDEPENDENTE (o INDIE, como dizemos em inglês).

Subitamente um autor podia submeter seu texto à conversão em E-PUB, para todas as plataformas, exceto o Kindle e/ou ao MOBI  da Amazon (para o Kindle, conversão gratuita). Horas depois seu livro podia estar sendo divulgado em todas as grandes livrarias virtuais mundo afora. E o mais extraordinário: muitos começaram a vender! Isso encorajou toda uma legião de milhares que se converteram, ao longo desses anos, em centenas de milhares de novos autores.

E o fantástico foi que essas centenas de milhares foram acompanhados por um número de vários milhões de leitores. E, mais fantástico ainda, um impressionante número de leitores novos.

Um grande fator diferente a permitir essa rápida multiplicação do mercado leitor foi o PREÇO! E-books eram extremamente mais baratos que os livros impressos. E assim, muito leitor que não podia comprar mais do que um livro impresso por mês (às vezes nem isso), pôde adquirir muitos e-books, algo com que ele não poderia nem sonhar pouco tempo antes. E veio o acesso instantâneo a dezenas de milhares de e-books gratuitos. Não tinha como não acontecer uma revolução.

Muitos se entusiasmaram com a rápida explosão do mercado de e-books e chegaram a vaticinar o rápido fim do livro impresso. Contudo, em 2013, eu publiquei um ensaio ("O Futuro do livro impresso, do jornal e da revista num mundo cada vez mais digital") em que eu discordava disso. Afirmei que o velho livro físico ainda teria uma sobrevida respeitável. Ou seja, o seu declínio será constante, porém muito mais lento do que se vaticinava então.

De fato, já em 2104 o mercado de e-books nos EUA começou a dar sinais de saturação. Foi a vez das cassandras vaticinarem o ocaso do e-book. Ora, obviamente isso não iria acontecer, qualquer um com familiaridade com o mercado livreiro americano saberia disso. E de fato não aconteceu. O e-book segue seu movimento ascensional, apenas com uma aceleração menor.

Mas sou capaz de arriscar meu próprio vaticínio para uma nova e súbita arrancada do e-book no mercado mundial. Isso se dará quando o que eu chamei naquele livro de “Geração E” chegar à idade de poder ter acesso independente ao mercado comprador. Ou seja, tiver renda própria para pagar por seus próprios livros.

E o que é aquilo que chamei de “Geração E” no “O Futuro do Livro Impresso, etc...”? É justamente aquela geração de crianças que começou a ser ‘alfabetizada’, isto é, aprendeu a ler, com o auxílio do livro eletrônico e seus anexos. Centenas de milhões de tablets nas escolas nas mãos das crianças vão puxando uma outra fase da e-revolução.

Como o e-book tem escassos dez anos, a “Geração E” ainda não chegou à maioridade sequer.

Por isso eu me arrisco a “profetizar”: dentro de mais alguns anos – cinco provavelmente – nós vamos observar uma nova e súbita explosão na demanda de e-books no mundo todo. E essa nova fase, a que eu chamei de "Segunda Onda", vai coincidir com o que denominei de “E-book de 3ª Geração”, com uma plataforma unificada e universal e um grau de interatividade sequer sonhada hoje. Ela será acompanhada pelo que chamei de “Dispositivos de 4ª Geração”, os e-book readers flexíveis extremamente baratos e os celulares de tecnologia correspondente.

Então, sim, o livro impresso vai experimentar um novo baque de vendas. Mas, mesmo aí, ele ainda vai sobreviver. Porém a pendente da curva de venda/tiragem para baixo vai sinalizar um preço crescente e deixá-lo mais restrito a certos nichos em que ele permanecerá único e imbatível. 

Um paralelo existe agora: música na Nuvem, música no pen drive, música no CD - e ainda temos o velho bolachão de vinil de 33 RPM sobrevivendo galhardamente. Só o velho disco quebrável de baquelite, de 78 rotações, foi totalmente para o museu. As outras 4 gerações ainda convivem entre si.

Por outro lado, não podemos deixar de assinalar que, infelizmente, nossa geração de adoradores de livros impressos, vai envelhecer e... desaparecer aos poucos, como é lei da vida. Ou seja, o movimento não será só de expansão do público leitor da “Geração E”, mas o de encolhimento natural e inevitável da “Geração P” (a que aprendeu a ler e cresceu condicionada ao livro impresso (Printed em inglês).

Eu sou um típico dinossauro da geração P. Não só tenho paixão pelo livro físico, como tenho 34 diferentes títulos deles publicados até hoje. Contra nenhum e-book. Até este ano de 2017. Quando começa minha publicação de e-books de não-ficção e ficção nos EUA, em inglês.

Mas, mesmo nos meus livros em português, todos impressos, eu sou um Geração P um tanto diferente, porque sou um INDIE, que aprendeu a se autopublicar e vende seus livros 90% só pela Internet e em eventos. Só um desses 34 títulos diferentes foi publicado por outra editora. Os outros todos publiquei-os eu mesmo. E, se eu fui capaz de fazê-lo e continuo fazendo-o, isso sinaliza claramente que é viável, sim, é possível publicar livros físicos sem ficar preso ao antigo esquema de editora-distribuidora-livraria.

O sistema Print on demand (impressão sob encomenda), que nasceu com os Indie e para os Indie, nos permite isso: imprimimos livros em menores quantidades, em função da venda que já temos garantida previamente. Como escritores autoeditores não precisamos imobilizar grandes capitais em grandes estoques de livro físico. Temos um custo unitário mais alto, mas um custo operacional menor e uma margem de lucro muitíssimo mais alta.

Quando em 2013 montei em Miami meu curso “The Publishable Writer”, o que eu quis foi ensinar a cada autor como formatar seu livro apenas com o Word e o PDF; como criar a capa; como negociar diretamente com a gráfica no sistema print on demand e como vender o seu livro através da Internet, através da construção de sua plataforma profissional de escritor e o uso das redes sociais.

Quando eu trouxe esse curso para o Brasil, em 2014, acrescentei algo a mais: ensinar o autor a produzir e imprimir o miolo do seu livro totalmente em casa, com uso de uma impressora laser barata e com cadernos costurados com qualidade. Da gráfica deve vir apenas a capa impressa em policromia e laminada em plástico, em cartão 300 gramas. O custo total do livro torna-se extremamente acessível para o autor, o que viabiliza que ele ingresse no mercado livreiro como um autor-editor independente, um legítimo Indie bem-sucedido, com um mínimo de investimento inicial.

Na prática, neste sistema de venda pela Internet, trabalha-se com o capital fornecido pelo leitor. O livro é vendido diretamente a este e o autor-editor recebe o pagamento integral, sem dar desconto algum a intermediário, antecipado.

Muito diferente do sistema convencional, onde a venda passa pelo distribuidor e pela grande livraria, com o editor (ou o autor, se ele mesmo for o editor) sendo obrigado a dar descontos de 55% a 60% sobre o preço de capa. E recebendo do circuito varejista-atacadista (ou livreiro-distribuidor) geralmente depois de 180 dias de sua entrega dos livros – que serão, via de regra, aceitos somente em consignação e devolvidos depois de algum tempo sem venda ativa.

Pense num simples exemplo: Um livro com preço de capa de 30 reais, com 224 páginas, papel pólen, capa 4 x 0 com orelhas, laminada. Custo da gráfica: 8 reais por livro, para tiragem pequena de apenas 300 exemplares.

Na venda direta, o frete (normalmente o porte de 5,60 reais pelo correio) fica por conta do comprador. Eu o absorvo, porque minha margem de lucro é muito grande e o leitor encontraria o livro a preço de 30 reais numa livraria física. Não é justo que ele pague 35,60 pelo livro.

Então temos R$ 30,00 – 5,60 = 24,40
R$ 24,40 – 8,00 (custo de gráfica) = R$ 16,40

R$ 16, 40 x 300 livros = R$ 4 920,00

No circuito convencional, se eu for somente autor, tenho direito a 10% de comissão sobre o preço de capa. Para igualar esse 4 920 eu teria que esperar a venda de 1640 livros, que o circuito distribuidor-livreiro me pagaria Deus sabe quando.

Vender 1000 livros no Brasil é hoje considerado um ‘sucesso’ de vendas. Triste realidade! Quando comecei como um totalmente desconhecido escritor autoeditor, em 1997, publicando meu livro “Como Tornar Seu Sítio Lucrativo”, a tiragem foi a padrão da época: 5000 exemplares. Tive três reedições desse livro.

Hoje uma edição de 1000 exemplares é considerada temerária se o autor é desconhecido. Já se ele for o Jô Sores ou a Claudia Leite, o temerário será publicar menos de 20 mil.

Se, como autor-editor eu insistir no sistema convencional, vou vender meu livro com 55% de desconto sobre o preço de capa:

R$ 30,00 x 0.45 = R$ 13,50

E daí tirando custo de gráfica:

R$ 13, 50 – 8,00 = R$ 5,50

Venda de 300 livros = R$ 1 650,00
Na venda direta        = R$ 4 920,00

Ou, por outra, para receber os mesmos 1650 reais, basta que eu venda apenas 100 livros. Só que estes eu recebo à vista antecipado. Os outros, sabe-se lá quando...

Veja que eu disse se EU for autor e editor. Isso implica que todo o trabalho de digitação, revisão, formatação e editoração foi feito por mim. E a criação da capa também. É assim que eu opero.
É isso que eu ensino.

Mas se o editor não é o autor, ele tem que pagar profissionais para fazerem todos esses trabalhos (no mínimo revisor, formatador e capista) e mais 10% de direito autoral para o autor; é evidente que seu custo não vai ser só o de gráfica. Ele se verá obrigado a mandar fazer impressão de pelo menos 1000 exemplares, para ter um custo unitário de gráfica um pouco menor (R$6,70) e para ter uma amplitude maior de distribuição no mercado.

Acontece que seu custo total, acrescentando-se aí as inevitáveis despesas que ele terá com promoção e publicidade, pode chegar muito perto dos 10 reais. E sua situação seria:

R$ 30,00 (preço de capa) x 0,45 (desconto de 55%) = R$ 13,50

R$ 13,50 – 10,00 = R$ 3,50.

Se ele conseguir vender os 1000 livros (e conseguir receber o pagamento!) dentro do mesmo ano, terá um resultado líquido de 3 500 reais nesse livro. Não há incidência de IPI nem de ICMS. Já o Leão...

Ora, o editor nunca vai poder colocar os 1000 exemplares todos à venda, porque tem que distribuir cerca de 50 ou mais livros gratuitamente no circuito de promoção do livro e do autor.

Percebe-se por aí por que razão uma editora só pode sobreviver se tiver MUITOS títulos a venda por ano.

Já o Indie autoeditor, que montou uma boa plataforma na Internet, pode trabalhar com apenas poucos títulos, que reedita e atualiza à medida que os vende.  Começa com o primeiro e vai em frente.

Eu sou um Indie nesses condições e ensino meus colegas a passarem para ela. Tenho três dezenas de livros em papel e, portanto, desejo ao velho livro de papel uma longa vida. Mas, como estudante perpétuo (fiz 49 cursos nos EUA) e membro ativo do mercado livreiro há mais de duas décadas, não tenho tanta ilusão e, por isso mesmo, estou preparando meu desembarque de mala e cuia no mercado internacional de e-books. E recomendo a meus colegas que façam o mesmo.

Um(a) bom (boa) tradutor(a) (felizmente consegui o melhor!), conversão para E-PUB e publicação em todos os sistemas virtuais, upload na Amazon americana, que faz gratuitamente a conversão em MOBI, e pronto. Em menos de uma semana você alcança o planeta Terra inteiro (o mercado para livros em inglês é 250 vezes maior que o para livros em português).


Fora a tradução, tudo isso tem custo bem próximo de zero.